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Não há muito o que dizer...

Marlyson Ribeiro, 12 anos
Carrego comigo a pecha de ser um sujeito de poucas palavras. E a cada dia sinto menos vontade de falar. Não sei se isso deveria ser motivo de preocupação. Bem, pode ser que eu esteja correndo o risco de comprometer minha oratória, deixando de exercitar os músculos responsáveis pela expressão oral. Mas, infelizmente, sinto que não há muito o que dizer.

Talvez por isso tenha me bandeado para a expressão escrita da linguagem. Bem ou mal, alguns se compadecem das parcas coisas que escrevo, quase sempre rodeadas de melancolia. Que o digam os três leitores diários deste blog.

Peço desculpas se meu tom soa rancoroso. Pra ser mais exato, diria desesperançoso. Mas a notícia de um menino que morreu baleado no Rio de Janeiro enquanto dormia no sofá de casa me deixou um pouco abalado.

Alguns dirão que infelizmente isso se tornou corriqueiro, que anualmente muitas pessoas morrem alvejadas por balas perdidas. E eu direi: - Sim, é verdade! Outros dirão que a estatística oficial é falha, representando apenas um terço daqueles que tiveram suas vidas ceifadas por projéteis assassinos. E novamente direi: - Sim, conheço os números! Mas é que hoje resolvi abandonar o lado frio das estatísticas para me solidarizar com aqueles que diariamente choram a morte de seus entes queridos.

O menino se chamava Marlyson Ribeiro, tinha 12 anos de idade e residia na vila Kennedy, zona oeste do Rio. Nada mais sei sobre sua vida, o que gostava de fazer e que sonhos tinha para o futuro. Tinha razão o escritor americano Chuck Palahniuk quando certa vez disse que "todos nós morremos" e que "o objetivo não é vivermos para sempre, mas criarmos algo que viverá". Talvez um filho seja a representação mais concreta da ideia de continuidade de nós mesmos. Será que um dia o jovem Marlyson pensou em ter uma família, com esposa, filhos? Não importa mais, a sua morte encerrou a possibilidade dele transferir para um herdeiro sua carga genética e, de certo modo, continuar "vivo" ao longo das gerações.

Encerro aqui esse texto do mesmo modo que vejo se deitar o domingo para então surgir a segunda, consciente de que em algum lugar da distante vila Kennedy uma família vela o corpo de um garoto abruptamente tirado da vida. Enfim, não há muito o que dizer...

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