Crônica "pescada" no Blog do Xico Sá
 
Uma  semana infame para as damas e cavalheiros solitários. Que massacre. O  romantismo como pacote de bugigangas: celulares, ipads, jantares finos,  viagens, auto-ajuda, dvds. De Armani ao camelô, só se vendeu o amor. 
A ditatura dos pombinhos, a felicidade em suaves prestações, sem juros. Mas com o  risco de tomar um pé na bunda antes de liquidar a fatura do cartão de crédito. 
O  maldito cupido de vitrine flechando os casais passantes, a cidade como  um grande canteiro de baldes de flores. E você ainda com aquela  obrigação muito romântica de uma baita performance na cama, mesmo depois  de uma década de acasalamento. Como disse o Chaves ao Palocci, “fuerza,  fuerza, camarada!”
A  amiga B. desde ontem estava em pânico. Sozinha, odeia a efeméride  pombilínea, blasfema aquelas obviedades todas, fala da hipocrisia etc.  Mas o que a faz mais puta ainda é o almoço de amanhã, em plena data, o  enrosco –verdadeiro ou falso- dos casais, dia em que até o flanelinha  solitário suspira de inveja.
Ela  faz questão de ir sozinha para o restaurante e desafiar os pombinhos  que arrulham espezinhando sobre petit gauteaus e outras falsas  impressões de que a vida é doce. 
B.  encarna a Greta Garbo -"i want to be alone!". Dispensa o amigo gay com  quem sempre sai e expõe sua inoxidável solidão na mais lotada das casas.  É quase uma provocação. Quase uma obra de arte panfletária contra essa  coisinha bossanovística de que é impossível ser feliz sozinho. 
Será?
De  alguma forma a resistência da minha amiga e a sua Síndrome de Greta  Garbo funcionam. Além de render muitas gargalhadas aos amigos quando ela  narra a cena da sua solidão exposta como numa Bienal. 
Agora  com licença que vou ali comprar a minha bugiganga, minha muamba, porque  o amor aqui em casa é tão paraguaio quanto o meu uísque. Mas é  igualmente lindo como o de vosotros.

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