Noite alta. No meio da mata um clarão rompia o negro breu que descia à terra. E meninos corriam alegres em torno da fogueira.
Não muito longe, a pequena cidade envolvida em sonhos, mas algumas casas permaneciam acordadas. Divisava-se ali e acolá a flama inquieta das lamparinas, dissipando no ar a fumaça preta do querosene. Um choro contido rompeu o silêncio.
Acudiram as vizinhas. Disseram que não chorasse, que o menino estava bem e que logo voltaria. Mas bem sabiam que não era verdade, tampouco a mãe se conformava com aquelas palavras. Não conteve a emoção e voltou a chorar. Disse que o fogo da sua casa não se apagaria enquanto o seu menino não entrasse pela porta da frente e caminhasse em direção aos seus braços.
Alguns homens partiram para a mata. Levaram os cachorros consigo. Em vão. E a cada regresso mal sucedido aumentava o desespero das mães.
E todos os dias surgia uma nova morada onde se via o fogo aceso dentro da noite. É que o menino tem medo do escuro, explicava uma das mães. Assim ele pode enxergar o caminho de casa...
A cidade, que antes dormia tranquilamente, agora permanecia iluminada pelas chamas do desespero. Ouvia-se longe o choro embargado das mulheres, misturando-se uns aos outros. Não longe dali, em meio às centelhas que estalavam enquanto subiam aos céus, meninos brincavam perto do fogo, às gargalhadas, não se contendo de tanto rir.
Glauber Ramos
* * *
Goiânia, 04 de junho de 2011.
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