segunda-feira, 16 de maio de 2011

A Cuba de Pedro Juan Gutiérrez


O escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez diz abominar a política, embora sua obra esteja impregnada pelo denuncismo social. Ao contrário de outros escritores que fugiram do regime castrista, Gutiérrez não abandonou a ilha de Fidel. Mas o preço a se pagar por essa decisão é deveras pesado. Ele jamais teve um livro seu lançado em seu país natal, embora sua obra já tenha sido publicada em mais de 20 países.

Dono de um estilo ágil e enxuto que desenvolveu em seus anos como jornalista, Pedro Juan Gutiérrez expõe sem piedade as mazelas da vida cubana. Do alto do 8º andar do prédio decadente em que vive, ele absorve a crua realidade de um país que muitas vezes é retratado como a síntese do sonho comunista que vingou. Caminhando pelas ruas melancólicas de Havana, Gutiérrez se mistura aos mais diferentes tipos que compõem a paisagem social da capital cubana – bêbados, viciados, curandeiros, prostitutas, biscates, turistas e travestis – a ponto dele próprio converter-se em personagem de suas histórias, conforme escancarado em seu livro de contos O insaciável homem aranha, de conteúdo altamente biográfico.

 Vendedor de sorvetes, cortador de cana, pintor, jornalista, escritor, essas são algumas das profissões que Pedro Juan Gutiérrez exerceu ao longo da sua vida. É bem provável que uma hora dessas ele esteja em sua janela contemplando a vida daquelas pobres pessoas, lançadas à própria sorte. Ou talvez esteja em alguma mesa de bar, bebendo rum barato e acendendo um charuto. Ou ainda tenha saído no encalço de alguma bela mulata, como gosta de fazer um certo escritor que muitas vezes aparece em suas histórias.

Para quem se interessou por sua obra, Pedro Juan Gutiérrez lançou os seguintes livros:
  • Trilogia Suja de Havana (1998)
  • O Rei de Havana (1999)
  • Animal Tropical (2000)
  • O Insaciável Homem-aranha (2002)
  • Carne de cão (2003)
  • Nosso GG em Havana (2004)
  • O Ninho da Serpente: Memórias do Filho do Sorveteiro (2005)
  • Coração Mestiço (2007)
 Site do escritor: www.pedrojuangutierrez.com


O Rei de Havana (trecho)

AQUELE pedaço de cobertura era o mais porco do edifício inteiro. Quando começou a crise de 1990, ela perdeu o emprego de faxineira. Então fez como muita gente: arranjou galinhas, um porco e umas pombas. Construiu uma gaiola de tábuas podres, pedaços de lata, sobras de barras de aço, arames. Comiam alguns e vendiam outros. Sobrevivia no meio da merda e do fedor dos bichos. Às vezes, o edifício chegava a não ter água durante vários dias. Então, vociferava com os meninos, acordava os dois de madrugada, e com tapas e empurrões os obrigava a descer os quatro andares e subir pela escada uns tantos baldes, tirados de um poço que inacreditavelmente existia na esquina, coberto com uma tampa de esgoto.


   Os meninos tinham então nove e dez anos. Reynaldo, o menor, era tranqüilo e silencioso. Nelson, mais fogoso, se rebelava sempre e às vezes gritava com ela, enfurecido:

   - Não grite mais comigo, porra! O que é que você quer?

   Ela era manca da perna direita e um pouco limítrofe ou tonta. Não era boa da cabeça. Desde menina. Talvez de nascença. Sua mãe vivia junto com eles. Tinha uns cem anos, ou mais, ninguém sabia. Todos num quarto em ruínas de três por quatro, e um pedaço de pátio ao ar livre. A velha não tomava banho fazia anos. Muito magra de tanta fome. Uma longa vida de fome e miséria permanente. Já estava cascuda. Não falava. Parecia uma múmia silenciosa, esquelética, coberta de sujeira. Mexia-se pouco ou nada. Sem falar jamais. Só olhava a filha meio tonta e os dois netos que se estapeavam e se ofendiam mutuamente em meio ao cacarejar das galinhas e ao latir dos cachorros. "Esses aí são loucos", diziam os vizinhos. E ninguém intervinha naquelas brigas contínuas.

   Às vezes, acendia um cigarro e se recostava na varanda da cobertura, olhando a rua, pensando em Adalberto. Quando jovem, teve dezenas de homens. Gostava de excitá-los. De qualquer idade. Alguns lhe diziam: "Olha, boba, venha aqui e me dê uma chupadinha. Dou dois pesos se me der uma chupada", e lá ia ela: chupar. Alguns lhe davam dinheiro. Outros não. Soltavam a porra e diziam: "Espere aqui, não saia daqui que eu já volto", e sumiam. Com Adalberto foi diferente. Os meninos são dele, mas o desgraçado nunca quis viver com eles ali na cobertura, e quando viu que estava grávida pela segunda vez, desapareceu para sempre. Agora já está meio velhusca, songa, fedendo demais, manca de uma perna, morrendo de fome. Pensava lá consigo mesma e concluía: "Quem, porra, vai chegar perto de mim? Se o que eu tenho é vontade de morrer". Pensava assim e se enfurecia consigo mesma. Jogava o cigarro na rua e, desesperada, gritava com os meninos:

   - Rey, Nelson, vão buscar água lá embaaaaixo! Caralho, vão buscar águaaaaa!

   Os meninos obedeciam. Contra a vontade, mas obedeciam. Pelo menos já não prendia mais os dois no armário escuro e pequeno durante dias. Desde muito pequenos, até completarem sete anos, enfiava os dois naquele lugar úmido, cheio de encanamentos e baratas. Sem razão. Só para tirar da sua frente. Os meninos ficavam apavorados porque quando entravam na prisão podiam passar um, dois ou até três dias sem comer, lambendo a umidade dos canos. Outras vezes, atirava-os dentro de um tanque de água, de repente, gritando para se calarem e não encherem mais. De susto, os meninos se calavam. Às vezes, os afundava na água e não os tirava até que, meio asfixiados, esperneavam, desesperados. Agora, maiores e mais fortes, rebelavam-se e impediam aqueles castigos. Viviam soltos, embora fossem às vezes à escola, na esquina da San Lázaro com a Belascoaín. Mais para fugir dela do que para aprender. Os professores ensinavam pouco porque os alunos eram rebotalho. As menininhas de treze anos já estavam trepando a pleno vapor com os turistas do Malecón. Os meninos, metidos com maconha e fazendo uns negocinhos, para ganhar algum todo dia. Os pais e mães se satisfaziam com sua ausência. Ninguém estava interessado em aprender matemática, nem coisas complicadas e inúteis. E os professores não conseguiam mais dominar aquelas ferinhas. Enfim, Nelson e Rey iam à escola três ou quatro dias e o resto da semana se distraíam na cobertura, com os pombos e os cachorros. Tinham cinco cachorros recolhidos da rua.

   Muitas vezes, a única comida do dia inteiro era um pedaço de pão e uma jarra de água com açúcar, mas mesmo assim os dois cresceram. Descobriram que as pombas dos outros vinham pousar ali na cobertura deles, e que não era difícil caçá-las vivas. Então, inventaram uma armadilha: um pombo bonito, macho e sedutor, que voava por cima de todos os edifícios. Sempre aparecia alguma pombinha incauta, admiradora daquele belo galã. E lá ia ela. Voava atrás dele e o pombo a conduzia até sua gaiola para lhe fazer amor à vontade. E aí: zás. Rey e Nelson fechavam a porta da gaiola. No mercado de Cuatro Caminos pagavam quarenta ou cinqüenta pesos pela pomba. Até cem pesos, se fosse branca. Com a crise e a fome e a loucura de ir embora do país, todo mundo fazia trabalhos de candomblé, e as pombas, cabritos e galos alcançavam bom preço. As galinhas pretas também, que são muito boas para limpeza e abrir caminhos. Quando os meninos vendiam uma pomba a coisa melhorava: comiam umas pizzas e tomavam uma vitamina de frutas. Levavam pizzas para a mãe e para a avó.

   Mesmo assim, ela continuava gritando sempre com eles, como uma louca. Vociferando, humilhando-os. Os dois já tinham pentelhos na pélvis e no cu, o pau já havia crescido e engrossado, tinham pêlos nas axilas e aquele cheiro de suor forte dos homens, e a voz um pouco mais rouca e grossa. Se masturbavam, escondidos no meio das gaiolas dos frangos, olhando a menina vizinha da cobertura ao lado. Na realidade, era a mesma cobertura do edifício, mas anos antes alguém a dividira ao meio com um muro baixo, de menos de um metro. Essa era a fronteira com os vizinhos: uma velha gorda e peituda com uma filha de uns vinte anos e muitos outros filhos que viviam por ali e jamais se lembravam de que ela era mãe deles. A menina era gostosa demais: mulata magra, linda, putinha. Só saía de noite, elegante, provocante, e voltava de madrugada. Durante o dia, andava pelo seu pedaço de cobertura com um short curtinho e justo e uma blusinha mínima, sem sutiã, com os bicos dos peitos bem marcados, e ahhh. Uma tentação. Reynaldo tinha já treze anos e Nelson catorze. Tinham largado a escola fazia tempo. Não agüentavam mais continuar sempre na sétima série. Repetiram três vezes a mesma série, até que desistiram.

   Consideravam-se homens. Continuavam com o negócio das pombas. Cada dia eram melhores roubando pombas e todo dia vendiam uma ou duas. Era um bom negócio. Eram homens e já sustentavam todos em casa. Mas a mãe continuava estúpida como sempre. Odiavam aquelas explosões e aqueles pitos na frente de todo mundo. Se sentiam humilhados e respondiam:

   - Não seja besta! Cale a boca, porra, cale a boca!

   A cobertura cada dia ficava mais porca, fedendo mais a merda de animais. A avó quase não se mexia. Sentava-se num caixote meio podre, ou em qualquer canto. E ficava horas debaixo do sol. Tinham de enfiá-la no quarto e deitá-la. Parecia uma morta-viva. Tinham também de controlar a mãe, porque a cada dia ficava mais maluca. Já nem conseguia mais descer a escada. Eles a empurravam e gritavam para que se calasse, mas ela berrava mais ainda, pegava um pedaço de pau e mandava em cima deles, tentando defender seu território. Eles arrancavam o pau da mão dela e a controlavam com uns bofetões na cara. Ela chorava de raiva, gritando, soluçava, acendia um cigarro no beiral da cobertura, olhando os carros, as bicicletas e as pessoas que passavam por San Lázaro. Já nem se lembrava de Adalberto.

   Uma manhã, por volta da onze, estava fumando e olhando a rua. Nelson tinha lhe dado um bofetão duro na boca, e estava com o lábio superior inchado e cortado por dentro. Passava a língua e sentia o gosto ferroso do sangue. Estava furiosa. Jogou a bituca na rua, deu uma cuspida meio sanguinolenta, querendo que caísse na cabeça de alguém, e se virou para entrar no quarto. O sol estava forte demais e lhe doía a cabeça. Os meninos, escondidos atrás do galinheiro, espiavam a putinha da vizinha. Os dois de olhos entrecerrados, sonhadores, mexendo ritmicamente no pau. A mulatinha estava meio nua, estendendo uma toalha e uma calcinha vermelha, de renda. Gostava que os meninos se masturbassem olhando para ela. A toalha pingava água e ela torcia e se molhava para se refrescar, debaixo do sol. Na verdade, gostaria de vê-los de corpo inteiro, frenéticos na frente dela, batendo a sua punheta, mas ainda eram meninos demais para se atrever a tanto. Quando crescessem um pouco mais seriam bons "atiradores" e exibiriam os paus nos portões do Malecón para todas que quisessem ver. Por ora, faziam escondido.

   Quando ela viu aquele espetáculo, ficou ainda mais queimada. Empinou de raiva:
- Vão batendo punheta! Vão batendo punheta! Descarados, vão acabar morrendo, fora daí! Os dois! Fora daí!

   Pegou um pau para bater neles, mas logo se virou para a vizinha provocante:

   - E você, puta de merda, faz isso só pra foder, porque é uma puta. Não provoque mais, senão eles acabam morrendo. Sem comer e tocando punheta o dia inteiro! Vai matar eles, droga de puta! Vai matar eles!

   - Escura aqui, tonta, não me amole, eu estou na minha casa e faço o que eu bem entendo.

   - Você é uma bela de uma puta.

   - Sou, mas com a minha boceta. E vivo vinte vezes melhor que você, que é tonta e imunda. Sua porca!

   Os cachorros começaram a latir e as galinhas também se alvoroçaram. No meio de tanto barulho e tanta loucura, ela tenta saltar o pequeno muro que separa as coberturas, com o pau na mão, querendo bater na vizinhinha, mas Nelson já está em cima dela e lhe tira o pau da mão. Furiosa, tenta passar de qualquer jeito para o pátio vizinho, gritando:

   - Você é uma puta! E você um punheteiro! Tira a mão de cima de mim. Me solta, punheteiro de merda.

   - Não me xingue mais, porra, não me xingue mais!

   Nelson está fora de si, descontrolado. É um homem de catorze anos, e lhe dói aquela humilhação. E ainda por cima, as gargalhadas gozadoras da vizinhinha, que agora provoca ainda mais:

   - Vai, punheteiro, descarado, vai ficar maluco com tanta punheta! Vai arrumar uma mulher.

   E dá a volta e entra em casa, muito tranqüila, requebrando a bunda para um lado e outro. No meio da briga, a gozação da putinha o machuca ainda mais. Dá um forte empurrão na mãe e a joga de costas contra o galinheiro. De um canto da gaiola, projeta-se uma ponta de cabo de aço que se crava em sua nuca até o cérebro. A mulher nem grita. Abre os olhos com horror, leva as mãos ao ponto onde entrou o aço. E morre apavorada. Em segundos, forma-se uma poça de sangue grosso e de líquidos viscosos. Ela morre com os olhos abertos, horrorizada. Nelson vê aquilo e de repente desaparece o ódio que sente pela mãe. É inundado de dor e de pânico.

   - Ai, minha mãe! O que foi que eu fiz, o que foi isso?

   Agarra a mãe, tentando levantá-la, mas não consegue. Está espetada pela nuca na ponta do cabo de aço.

   - Eu matei ela, matei ela!

   Gritando como um louco, sai correndo pelo beiral da cobertura e se atira na rua. Não sente o estrépito do seu crânio ao se arrebentar no asfalto quatro andares abaixo. Morreu igual à mãe, com uma expressão veemente de crispação e de terror.

   A avozinha viu aquilo tudo sem se mexer de seu lugar, sentada num caixote de madeira podre. Sem fazer nem um gesto, fechou os olhos. Não podia viver mais. Já era demais. O coração dela parou. Caiu para trás e ficou recostada na parede, impávida como uma múmia.

   Rey não havia saído de seu esconderijo atrás do galinheiro. Foi tudo rapidíssimo e ainda estava com o pinto duro feito um pau. Guardou-o como pode e colocou-o entre as coxas para prendê-lo e não fazer volume, até baixar sozinho. Ficou sem fala. Foi até o beiral da cobertura e olhou. Lá estava seu irmão, estatelado no meio da rua, rodeado de gente, de policiais, o tráfego parado de um lado e outro da San Lázaro.

   Num instante os policiais chegaram na cobertura. Vinham belicosos:

   - O que aconteceu aqui?

   Rey não conseguiu responder. Encolheu os ombros e se pôs a sorrir para os policiais. Os sujeitos ficaram boquiabertos:

   - E você ainda ri? O que foi que você fez? Vamos lá, diga aí. O que foi que você fez?
Riu de novo, tinha a mente em branco, mas afinal conseguiu dizer:

   - Nada, nada. Eu não sei.

   - Como não sabe? O você fez?

   - Nada. Eu não sei.

   Foi algemado. Levado pela escada. Empurrado para dentro da radiopatrulha até a delegacia de polícia, a umas quadras dali. Foi preso numa cela, no porão, junto com três delinqüentes. E ali ficou. Sem pensar em nada, modorrento.

   Os técnicos de criminalística demoraram três horas para chegar a San Lázaro. Trabalharam escrupulosamente a tarde toda. Levantaram o cadáver de Nelson às cinco horas e o levaram para o necrotério, junto com o da avó. Com ela demoraram um pouco mais. Já era de noite quando resolveram desenganchá-la do cabo de aço e mandá-la para o necrotério. Era evidente que alguém havia empurrado violentamente o rapaz da cobertura e a mulher, de costas, contra o galinheiro. A velhinha morreu de uma parada cardíaca, sem violência. Só que não havia testemunhas. Ninguém viu nada. É sempre a mesma coisa nesse bairro. Ninguém vê nada. Jamais uma testemunha.
(...)

Regressou lentamente. Não tinha pressa. Gostava de andar de madrugada, de vagabundear sem rumo. Era melhor esquecer o cemitério. Além disso, era trabalho demais por vinte pesos. Chegou muito cedo ao edifício. Subiu a escada. Bateu na porta de Magda. Ela abriu, sonolenta.

   -Ah, até que enfim você apareceu.

   -O mesmo digo eu.

   Magda se atirou na enxerga de novo. E ele ao lado dela. Dormiram no mesmo instante. Quando acordaram passava do meio dia. Como sempre, ele acordou com uma ereção fenomenal. Magda estendeu a mão. Apalpou, ainda meio adormecida. Apertou. Ele pôs a mão no sexo dela. E sem abrir os olhos se acariciaram. Ele chegou mais perto. Essa era Magda. Com cheiro de sujeira, igual a ele. Lambeu seu pescoço. Cheirou suas axilas fétidas. Isso o excitava muito. Subiu em cima dela, penetrou-a, e se sentiu muito bem. Realmente bem. Seria amor? Não se lembrou da bebadinha da noite anterior. Nem de Sandra. Treparam com profundidade, quer dizer, sentindo o que faziam. Depois do primeiro orgasmo, continuaram, ficaram um pouco mais frenéticos. Ah, que bom.

   - Gosta de mim, titi?

   - Gosto, papito, como gosto...como me sinto bem com você.

   Os dois corpos unidos se comunicavam aos sussurros, com pequenas frases de amor. Se acariciavam, se desejavam com cada pedacinho dos sentidos. Depois, quando esfriava a sensualidade, dava pena sentir tanto amor. A sutileza do amor é um luxo. Desfrutá-lo é um excesso impróprio dos estóicos.

   Levantaram-se da enxerga às três da tarde. Magda lhe ofereceu rum. Restava um pouco numa garrafa.

   - Não. Estou com fome.

   - Nem comida, nem café, nem cigarro. Não tem nada. Rum e mais nada.

   - Você é um desastre.

   - Você é mais desastre que eu, Rey. Se eu não arrumo grana, a gente morre de fome.

   - Bom, vá, se manda. Arrume algum.

   - Espere um pouco, chino, tenho um dinheirinho aqui.

   - Dos velhos?

   - De qualquer coisa, neném. Não comece com essa encheção. Já disse cinquënta vezes que os velhos dão mais dinheiro que o amendoim. Vamos pra rua, procurar alguma coisa pra comer.

   - Não. Eu fico. Você traz. E não demore.

   - Você é o maior mimado do mundo. Rei de Havana não. O Mimado de Havana!

©Pedro Juan Gutiérrez

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