sexta-feira, 22 de julho de 2011

Brasília nos versos de Nicolas Behr





ninguém me ama
ninguém me quer
ninguém me chama
nicolas behr










Nicolas Behr, forma abreviada que o poeta adotou para o seu nome solene: Nikolaus Hubertus Josef Maria von Behr. Nascido em Cuiabá-MT no ano de 1958, desde 1974 reside na capital federal.

Sua obra situa-se dentro da chamada "geração mimeógrafo", movimento pós-tropicalista que buscava meios alternativos para a difusão de novas ideias, em contraponto aos meios editoriais tradicionais – por isso a utilização do mimeógrafo, considerada uma tecnologia de impressão mais acessível.

Mas a geração mimeógrafo representava também um novo ideal de produção cultural. O próprio Nicolas Behr assim definiu: "a geração mimeógrafo surgiu com os 'não alinhados', só escrever não basta. Escrever é a ponta do iceberg, 'um poeta não se faz com versos', dizia Torquato Neto". Adiante, continua: "Geração mimeógrafo é antes de mais nada, uma atitude. Fazemos parte da geração do atalho, vamos pelo desvio e burlamos todo o esquema editorial do livro".

O grande diferencial de Nicolas Behr em relação aos demais poetas dessa geração é fato dele não pertencer ao ciclo de escritores cariocas que deram início ao movimento. Mais ainda, ele é o principal nome da geração mimeógrafo fora do Rio de Janeiro, e também o único que teve problemas reais com a ditadura, tendo sido preso pelo DOPS em agosto de 1978.

Por outro lado, pode-se dizer que sua poesia está impregnada pela geografia de Brasília e do planalto central em todos os sentidos: desde a arquitetura de Niemeyer até a aridez típica do cerrado, incluindo aí os acontecimentos políticos que de certo modo caracterizam negativamente a capital do país.

Para saber mais sobre o escritor, visite o seu site:

http://www.nicolasbehr.com.br/
 
VOZES DO CERRADO

brasília!!! brasília!!!
onde estás
que não me respondes?
em que bloco
em que superquadra
tu te escondes?

Do livro Entre Quadras (1979)

* * *

 
subo aos céus
pelas escadas rolantes
da rodoviária de brasília

o corpo de cristo
aqui não é pão
é pastel de carne

o sangue de cristo
não é vinho
é caldo de cana

o pdroeiro desta cidade
é S. João Bosco ou Padim Ciço?

De Saída de Emergência (1979)

* * *


eu engoli Brasília.

em paz
com a cidade
meu Fusca vai
por esses eixos,
balões e quadras,
burocraticamente,
carimbando
o asfalto

e enviando ofícios
de estima
e consideração
ao Sr. Diretor.

De Porque Construí Braxília (1993)

 
* * * 

nem tudo que é torto
é errado

veja as pernas do garrincha
e as árvores do cerrado

Do livro Beijo de Hiena (1993)

* * *
 

as águas do paranoá
não correm para o mar

viram nuvens
e ficam paradas no ar

* * *

alô? eu queria falar com
a substituta da assistente da
secretária da coordenadoria
da secretária da assessoria
da chefia da procuradoria da
defensoria da corregedoria
da ouvidoria da dona maria
que está na portaria.
ah, saiu? não volta mais hoje...
 

Ambos de Braxília Revisitada vol. I (2004)
 

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