sábado, 23 de julho de 2011

Hey, anos 80!



Hey! Anos 80!
Charrete que perdeu o condutor
Hey! Anos 80!
Melancolia e promessas de amor
Melancolia e promessas de amor...

(Anos 80 - Raul Seixas) 




Não sei qual é a mágica que envolve essa década. Talvez porque seja aquela em que as portas foram fechadas para a ditadura, dando lugar aos gritos de democracia e liberdade. As vozes silentes finalmente puderam expressar suas opiniões. A pátria que sonhava com a "volta do irmão do Henfil" finalmente assistiu de braços abertos o regresso dos seus filhos exilados. 

Uma nova juventude surgiu, e com ela a sensação de que jamais seríamos tolerantes com qualquer forma de repressão à liberdade de expressão. Muita coisa mudou para melhor, mas outras nem tanto. Os corruptos continuam no poder, conduzindo este país por caminhos obscuros. O inimigo já não é mais o "grande monstro verde do mal". Ele pode ser seu vizinho, seu irmão, pode estar dividindo a mesa com você neste exato momento. Sequer reconhecemos a nós próprios. Como escreveu certa vez o poeta francês Jacques Rigout, "Não esqueça que não posso ver a mim mesmo; meu papel limita-se a ser aquele que olha no espelho".

 Léo Jaime - Nada mudou

Lulu Santos - Um certo alguém

Metrô - Tudo pode mudar

Plebe Rude - Até quando esperar

Legião Urbana - Ainda é cedo

Blitz - A dois passos do paraíso

Um salve para o canal do Calulinho no Youtube! Só raridades...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Brasília nos versos de Nicolas Behr





ninguém me ama
ninguém me quer
ninguém me chama
nicolas behr










Nicolas Behr, forma abreviada que o poeta adotou para o seu nome solene: Nikolaus Hubertus Josef Maria von Behr. Nascido em Cuiabá-MT no ano de 1958, desde 1974 reside na capital federal.

Sua obra situa-se dentro da chamada "geração mimeógrafo", movimento pós-tropicalista que buscava meios alternativos para a difusão de novas ideias, em contraponto aos meios editoriais tradicionais – por isso a utilização do mimeógrafo, considerada uma tecnologia de impressão mais acessível.

Mas a geração mimeógrafo representava também um novo ideal de produção cultural. O próprio Nicolas Behr assim definiu: "a geração mimeógrafo surgiu com os 'não alinhados', só escrever não basta. Escrever é a ponta do iceberg, 'um poeta não se faz com versos', dizia Torquato Neto". Adiante, continua: "Geração mimeógrafo é antes de mais nada, uma atitude. Fazemos parte da geração do atalho, vamos pelo desvio e burlamos todo o esquema editorial do livro".

O grande diferencial de Nicolas Behr em relação aos demais poetas dessa geração é fato dele não pertencer ao ciclo de escritores cariocas que deram início ao movimento. Mais ainda, ele é o principal nome da geração mimeógrafo fora do Rio de Janeiro, e também o único que teve problemas reais com a ditadura, tendo sido preso pelo DOPS em agosto de 1978.

Por outro lado, pode-se dizer que sua poesia está impregnada pela geografia de Brasília e do planalto central em todos os sentidos: desde a arquitetura de Niemeyer até a aridez típica do cerrado, incluindo aí os acontecimentos políticos que de certo modo caracterizam negativamente a capital do país.

Para saber mais sobre o escritor, visite o seu site:

http://www.nicolasbehr.com.br/
 
VOZES DO CERRADO

brasília!!! brasília!!!
onde estás
que não me respondes?
em que bloco
em que superquadra
tu te escondes?

Do livro Entre Quadras (1979)

* * *

 
subo aos céus
pelas escadas rolantes
da rodoviária de brasília

o corpo de cristo
aqui não é pão
é pastel de carne

o sangue de cristo
não é vinho
é caldo de cana

o pdroeiro desta cidade
é S. João Bosco ou Padim Ciço?

De Saída de Emergência (1979)

* * *


eu engoli Brasília.

em paz
com a cidade
meu Fusca vai
por esses eixos,
balões e quadras,
burocraticamente,
carimbando
o asfalto

e enviando ofícios
de estima
e consideração
ao Sr. Diretor.

De Porque Construí Braxília (1993)

 
* * * 

nem tudo que é torto
é errado

veja as pernas do garrincha
e as árvores do cerrado

Do livro Beijo de Hiena (1993)

* * *
 

as águas do paranoá
não correm para o mar

viram nuvens
e ficam paradas no ar

* * *

alô? eu queria falar com
a substituta da assistente da
secretária da coordenadoria
da secretária da assessoria
da chefia da procuradoria da
defensoria da corregedoria
da ouvidoria da dona maria
que está na portaria.
ah, saiu? não volta mais hoje...
 

Ambos de Braxília Revisitada vol. I (2004)
 

quarta-feira, 20 de julho de 2011

With a little help from my friends


Regravar uma música dos Beatles e imortalizar essa nova versão, superando a original? Realmente não é para qualquer um. Mas Joe Cocker conseguiu esse feito. Há mais de quatro décadas interpretando a canção With a little help from my friends, Cocker jamais deixou de cantá-la com emoção. Clássico!








***


domingo, 17 de julho de 2011

Saudade de Manuel Bandeira

Encontro canônico: Carlos Drummond, Vinicius, Bandeira, Quintana e Paulo Mendes Campos

Bela homenagem do "poetinha" Vinicius de Moraes ao amigo Manuel Bandeira, a quem considerava sua principal referência na poesia nacional. 


Saudade de Manuel Bandeira

Não foste apenas um segredo
De poesia e de emoção
Foste uma estrela em meu degredo
Poeta, pai! áspero irmão.

Não me abraçaste só no peito
Puseste a mão na minha mão
Eu, pequenino – tu, eleito
Poeta! pai, áspero irmão.

Lúcido, alto e ascético amigo
De triste e claro coração
Que sonhas tanto a sós contigo
Poeta, pai, áspero irmão?

(Vinicius de Moraes)



Minha grande ternura

Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo.

(Manuel Bandeira)

sábado, 16 de julho de 2011

Quintal das lembranças

Raymond Carver

O escritor americano Raymond Carver (25 de Maio de 1938 – 2 de Agosto de  1988) é, sem sombra de dúvidas, um dos principais expoentes do conto americano no século XX. Para muitos, o principal representante do gênero dentro dos EUA.

Dono de um estilo enxuto, ou como preferem os estudiosos, minimalista, Carver notabilizou-se pela economia de palavras na sua produção literária.

Com relação aos seus personagens, tinha predileção por aqueles indivíduos que por um motivo ou outro se viam à margem da sociedade: alcoólatras, desempregados, agressores, enfim, o populacho suburbano pertencente à classe média - pessoas imersas em  existências banais que a princípio seriam incapazes de despertar no leitor qualquer curiosidade sobre suas histórias de vida.

Mas é justamente desse substrato de banalidades que Carver colhe os elementos necessários à sua obra. Admirador do russo Chekhov, Raymond Carver adotou a visão conformista deste ao retratar o cotidiano, que, para ele, representava "a mais completa derrota do sonho americano".

Precocemente falecido aos 50 anos de idade, Carver não chegou a desfrutar o sucesso que sua obra adquiriu após a sua morte. Mas o legado de Carver para as gerações presente e futura reveste-se da mesma importância que os legados de nomes como Ernest Hemingway e William Faulkner representaram para a sua geração.


Mecânica popular 

             Bem cedo naquele dia o tempo começou a virar e a neve derretia e se transformava em água suja. Regatos escorriam da janelinha que batia na altura do ombro e dava para o quintal. Carros desciam pela rua encharcada e lá fora começava a escurecer. Mas estava ficando escuro também dentro de casa.
            
             Ele estava no quarto enfiando as roupas na mala quando ela se aproximou da porta.
             
             Estou feliz por você ir embora! Estou feliz por você ir embora!, disse ela. Está ouvindo?

             Ele continuou pondo suas coisas na mala.

            Filho da puta! Estou muito feliz por você ir embora! Ela começou a gritar. Você nem é capaz de olhar na minha cara, não é?
             
            Então ela reparou na foto do bebê sobre a cama e pegou-a.

            Ele olhou para ela, que esfregou os olhos e fitou-o, antes de se virar e voltar para a sala.

            Traga isso aqui, disse ele.

            Pegue suas coisas e vá embora de uma vez, disse ela.

            Ele não respondeu. Fechou a mala, vestiu o paletó, olhou em volta do quarto antes de apagar a luz. Em seguida foi para a sala.

            Ela estava na porta da cozinha pequena, segurando o bebê.

            Eu quero o bebê, disse ele.

            Está maluco?

            Não, mas eu quero o bebê. Vou mandar alguém vir depois para pegar as coisas dele.

            Você não vai tocar neste bebê, disse ela.

            O bebê tinha começado a chorar e ela removeu a manta que encobria sua cabeça.

            Ah, ah, disse ela olhando para o bebê.

            Ele avançou em direção a ela.

            Pelo amor de Deus!, disse ela. Ela deu um passo para trás e entrou na cozinha.

            Eu quero o bebê.

            Saia daqui!

            Ela se virou e tentou segurar o bebê num canto da parede, por trás do fogão.

            Mas ele avançou na direção dela. Estendeu a mão por cima do fogão e apertou o bebê com as mãos.

            Solte o bebê, disse ele.

            Vá embora, vá embora!, gritou ela.

            O bebê estava com a cara vermelha e berrava. Na briga, derrubaram um vaso de planta pendurado atrás do fogão.

            Então ele a apertou de encontro à parede, na tentativa de obrigá-la a soltar a criança. Ela continuou segurando o bebê e empurrou com todo o seu peso.

            Solte a criança, disse ele.

            Não, disse ela. Você está machucando o bebê, disse ela.

            Não estou machucando o bebê, disse ele.

            Da janela da cozinha não vinha nenhuma luz. Na penumbra, ele tentava abrir à força dos dedos dela com uma das mãos e, com a outra, segurava o bebê, que berrava, apertando a criança por baixo do braço, perto do ombro.

            Ela sentiu seus dedos sendo forçados a abrir. Sentiu o bebê sendo tirado de suas mãos.

            Não!, berrou ela na hora em que as mãos se abriram.

            Ela não podia ficar sem aquele bebê. Agarrou o outro braço do bebê. Segurou o pulso do bebê e inclinou-se para trás.

            Mas ele não queria soltar. Sentiu o bebê escorregando de suas mãos e puxou de volta com muita força.

            Dessa forma, a questão ficou resolvida.


Tradução de Rubens Figueiredo


 
Conto retirado do livro 68 contos de Raymond Carver, Editora Companhia das Letras, cuja aquisição recomendamos.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

«E N T R E A S P A S»


"Todas as mudanças, mesmo aquelas pelas quais ansiamos, tem sua melancolia. Aquilo que deixamos para trás, é uma parte de nós mesmos. Precisamos morrer em uma vida antes de entrarmos em outra"

Anatole France (16 de abril de 1844 - 12 de outubro de 1924) - pseudônimo de Jacques Anatole François Thibault - foi um escritor francês. Em 1921, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em reconhecimento à sua obra.


Ouvindo agora: [Forever Young - Bob Dylan]

quarta-feira, 13 de julho de 2011

DIA MUNDIAL DO ROCK


Hoje, oficialmente, é considerado o Dia Mundial do Rock. A data faz alusão ao concerto Live Aid, ocorrido em 13 de julho de 1985, com o objetivo de angariar fundos para as vítimas da fome na Etiópia. O concerto, que aconteceu simultaneamente em Londres e na Filadélfia, reuniu dezenas de artistas, entre eles as bandas Led Zeppelin, The Who, Queen, The Beach Boys, além de nomes como B.B. King, Neil Young e Eric Clapton.

Não me recordo onde, mas certa vez ouvi a informação de que o dia do rock seria - ou deveria ser - a data em que surgiu para o mundo a mais revolucionária invenção da música moderna: a guitarra Fender Stratocaster (1954), modelo preferido pelos maiores guitarristas da história, dentre eles Jimi Hendrix, David Gilmour, Eric Clapton, George Harrison, Jimmy Page e tantos outros.

Enfim, seja 13 de julho ou qualquer outra data, a verdade é que todo dia é Dia de Rock!

Chuck Berry - Johnny B. Goode

Led Zeppelin - Stairway to heaven

Deep Purple - Smoke on the water

Jimi Hendrix - Hey Joe

Black Sabbath - Iron Man

AC/DC - Back in black

Crack, Nem Pensar

Ajudando a divulgar esta importante campanha lançada pelo Conselho Nacional de Justiça. Colabore você também com a divulgação!


O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou no dia 26 de junho, Dia Internacional de Combate às Drogas, campanha nacional de prevenção e combate ao uso do crack. As equipes dos jogos da Série A do Campeonato Brasileiro que serão transmitidos pela TV aberta entrarão em campo com uma faixa alusiva à campanha, em ação apoiada pela Rede Globo de Televisão. Até 31 de agosto, emissoras da televisão aberta vão exibir o vídeo que alerta as famílias sobre os perigos do consumo do crack, especialmente pelos jovens. A campanha tem o apoio do Instituto Crack, nem Pensar e do Conselho Nacional do Minsitério Público (CNMP).

O CNJ também vai distribuir aos tribunais brasileiros 10 mil exemplares de cartilha produzida por especialistas para a campanha. A ideia é disseminar as informações por meio das Coordenadorias da Infância e Juventude dos tribunais.  O presidente do CNJ, ministro Cezar Peluso, acredita que a prevenção é a melhor forma de combate ao uso do crack, “indiscutível fator de aumento das taxas de criminalidade, violência e outros problemas sociais”, diz no texto de apresentação da cartilha.

Cartilha sobre o crack


Vídeo da campanha

segunda-feira, 11 de julho de 2011

CANÇÃO DE MIM MESMO

"Não pertenço a igreja nenhuma, não pertenço a partido político nenhum, não pertenço a associação literária nenhuma, não sou maçon, enfim, eu sempre quis viver individualmente". Com a devida vênia, faço minha as palavras daquele que para mim é o maior poeta brasileiro vivo, Nauro Machado.

Dialogando com minha individualidade, evoco, à guisa de um velho xamã no seio da mata escura, os versos revolucionários do poeta norte-americano Walt Whitman (31/05/1819 - 26/03/1892), contidos no seu único e interminável livro - Folhas de relva.

Dono de versos caudalosos onde celebra a vida, o amor, o sexo e os elementos da existência cotidiana, Whitman implodiu a poesia clássica baseada na métrica e no jogo de rimas, introduzindo o verso livre e dando nova dimensão à produção poética, a qual serviu de inspiração para todas as gerações de escritores que vieram depois dele.

Canção de mim mesmo (fragmentos) - o mais famoso poema de Walt Whitman.


CANÇÃO DE MIM MESMO
(excertos)


EU CELEBRO a mim mesmo,
    E o que eu assumo você vai assumir,
    Pois cada átomo que pertence a mim pertence a
                                        [ você.

    Vadio e convido minha alma,
    Me deito e vadio à vontade .... observando uma
                                [ lâmina de grama do verão.

    Casas e quartos se enchem de perfumes .... as
            [ estantes estão entulhadas de perfumes,
    Respiro o aroma eu mesmo, e gosto e o
            [ reconheço,
    Sua destilação poderia me intoxicar também,
            [ mas não deixo.

    A atmosfera não é nenhum perfume .... não tem
            [ gosto de destilação .... é inodoro,
    É pra minha boca apenas e pra sempre .... estou
            [ apaixonado por ela,
    Vou até a margem junto à mata sem disfarces e
            [ pelado,
    Louco pra que ela faça contato comigo.

    A fumaça de minha própria respiração,
    Ecos, ondulações, zunzuns e sussurros .... raiz
    [ de amaranto, fio de seda, forquilha e videira,
    Minha respiração minha inspiração .... a batida
        [ do meu coração .... passagem de sangue e
        [ ar por meus pulmões,
    O aroma das folhas verdes e das folhas secas,
        [ da praia e das rochas marinhas de cores
        [ escuras, e do feno na tulha,
    O som das palavras bafejadas por minha voz ....
        [ palavras disparadas nos redemoinhos do
        [ vento,
    Uns beijos de leve .... alguns agarros .... o
        [ afago dos braços,
    Jogo de luz e sombra nas árvores enquanto
        [ oscilam seus galhos sutis,
    Delícia de estar só ou no agito das ruas, ou pelos
        [ campos e encostas de colina,
    Sensação de bem-estar .... apito do meio-dia
        [ .... a canção de mim mesmo se erguendo
        [ da cama e cruzando com o sol.


    Uma criança disse, O que é a relva? trazendo um
         [ tufo em suas mãos;
    O que dizer a ela ?.... sei tanto quanto ela o que
         [ é a relva.

    Vai ver é a bandeira do meu estado de espírito,
      [ tecida de uma substância de esperança verde.
    Vai ver é o lenço do Senhor,
    Um presente perfumado e o lembrete derrubado
      [ por querer,
    Com o nome do dono bordado num canto, pra que possamos ver e examinar, e dizer
          É seu ?
    

    O blablablá das ruas .... rodas de carros e o
         [ baque das botas e papos dos pedestres,
    O ônibus pesado, o cobrador de polegar
         [ interrogativo, o tinir das ferraduras dos
         [ cavalos no chão de granito.
    O carnaval de trenós, o retinir de piadas
         [ berradas e guerras de bolas de neve ;
    Os gritos de urra aos preferidos do povo ....
         [ o tumulto da multidão furiosa,
    O ruflar das cortinas da liteira — dentro um
         [ doente a caminho do hospital,
    O confronto de inimigos, súbito insulto,
         [ socos e quedas,
    A multidão excitada — o policial e sua estrela
         [ apressado forçando passagem até o centro
         [ da multidão;
    As pedras impassíveis levando e devolvendo
         [ tantos ecos,
    As almas se movendo .... será que são invisíveis
         [ enquanto o mínimo átomo é visível ?
    Que gemidos de glutões ou famintos que
         [ esmorecem e desmaiam de insolação
         [ ou de surtos,
    Que gritos de grávidas pegas de surpresa,
         [ correndo pra casa pra parir,
    Que fala sepulta e viva vibra sempre aqui....
         [ quantos uivos reprimidos pelo decoro, Prisões de criminosos, truques, propostas
         [ indecentes, consentimentos, rejeições de
         [ lábios convexos,
    Estou atento a tudo e as suas ressonâncias ....
         [ estou sempre chegando.


    Sou o poeta do corpo,
    E sou o poeta da alma.

    Os prazeres do céu estão comigo, os pesares do
         [ inferno estão comigo,
    Aqueles, enxerto e faço crescer em mim mesmo
         [ .... estes, traduzo numa nova língua.

    Sou o poeta da mulher tanto quanto do homem,
    E digo que é tão bom ser mulher quanto ser
         [ homem,
    E digo que não há nada maior que a mãe dos
         [ homens.

    
    Vadio uma jornada perpétua,
    Meus sinais são uma capa de chuva e sapatos
          [ confortáveis e um cajado arrancado
          [ do mato ;
    Nenhum amigo fica confortável em minha
          [ cadeira,
    Não tenho cátedra, igreja, nem filosofia;
    Não conduzo ninguém à mesa de jantar ou à
          [ biblioteca ou à bolsa de valores,
    Mas conduzo a uma colina cada homem e mulher
          [ entre vocês,
    Minha mão esquerda enlaça sua cintura,
    Minha mão direita aponta paisagens de
          [ continentes, e a estrada pública.

    Nem eu nem ninguém vai percorrer essa estrada
          [ pra você,
    Você tem que percorrê-la sozinho.

    Não é tão longe assim .... está ao seu alcance,
    Talvez você tenha andado nela a vida toda e não
          [ sabia,
    Talvez a estrada esteja em toda parte sobre a
          [ água e sobre a terra.

    Pegue sua bagagem, eu pego a minha, vamos em
          [ frente;
    Toparemos com cidades maravilhosas e nações
          [ livres no caminho.

    Se você se cansar, entrega os fardos, descansa a
          [ mão macia em meu quadril,
    E quando for a hora você fará o mesmo por mim;
    Pois depois de partir não vamos mais parar.