sábado, 5 de março de 2011

NA BOCA

Sempre tristíssimas estas cantigas de carnaval
Paixão
Ciúme
Dor daquilo que não se pode dizer

Felizmente existe o álcool na vida
E nos três dias de carnaval éter de lança-perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
E gritava pedindo o esguicho de cloretilo:
- Na boca! Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
Outras porém faziam-lhe a vontade.

Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos
[viciados
Dorinha meu amor...
Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro:
- Na boca! Na boca! 

Manuel Bandeira (Recife, 19/04/1886 - Rio de Janeiro, 13/10/1968)

Saiba mais sobre a vida e obra do poeta no site Releituras.

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