quinta-feira, 31 de março de 2011

Sizenando, a vida é triste

Rubem Braga
Está provado que acordar mais cedo faz o dia maior. Esta frase não é minha, e desgraçadamente não consegui saber o nome de seu autor, pois acordei muito cedo, mas não o bastante cedo; quando liguei o rádio às 6:10 a aula já tinha começado; ouvi o programa até o fim, mas não fiquei sabendo o nome do professor. "La verando estas vera jardeno, plena de floroi". Nunca estudei esperanto, mas suponho que a varanda ou o verão está com muitas flores no jardim; de qualquer modo é uma boa notícia, algo de construtivo.

Confesso que a certa altura mudei de estação; sou um espírito inquieto. A estação logo à direita dava telegramas de Argel, crise na França; fui mais adiante, sintonizei um bolero; tentei ainda outra, dizia anúncios; voltei para o meu jardim florido em esperanto.

O professor estava agora respondendo cartas de ouvintes. O Sr. Sizenando Mendes Ferreira, de Iporá, Goiás, escrevera dizendo que achara suas aulas muito interessantes e queria se inscrever entre seus alunos.

Sou um homem do interior, tenho uma certa emoção do interior, às vezes penso que eu merecia ser goiano. A manhã estava escura e chuvosa em Ipanema; e me comoveu saber que naquele instante mesmo, a um mundo de remotas léguas, no interior de Goiás, havia um Sizenando, brasileiro como eu, aprendendo que o jardeno está plena de floroi - e talvez escrevendo isso em um caderno.

Não importa que neste momento haja milhões de brasileiros dormindo insensatamente, enquanto outros milhões tomam café ou banho de chuveiro ou já marchem para o trabalho, ou que minha amada Joana esteja neste minuto saindo da Sacha's e entrando no carro daquele "stompananto" de Botafogo. Eu e Sizenando cultivamos o jardim da cultura, "plena de floroi"; nós somos, de certo modo, a elite do Brasil; amanhecemos em flor.

Então o professor, talvez estimulado pela atenção do ouvinte goiano, fez uma pequena dissertação sobre a utilidade do esperanto e também sobre a vantagem de acordar cedo. Está provado que acordar mais cedo faz o dia maior. Não será uma frase muito sutil, mas é tão pura e bem-intencionada que poderá figurar no decálogo do escoteiro. No fundo deve haver alguma ligação entre o escotismo, o esperanto e acordar cedo. Eis uma falha de minha vida; nunca fui escoteiro; agora é tarde para quebrar coco na ladeira, mas talvez ainda seja tempo para aprender um pouco de esperanto; eu e Sizenando. "Tenho um amigo" - dizia o professor - "que me confessou que nunca ouvira o meu programa, pois dorme até tarde. Pois bem. Ele ontem acordou cedo e ouviu o meu programa. Disse-me que passou o dia inteiro com uma excelente disposição, achou o dia maior e mais útil, ficou realmente satisfeito."

O próprio professor estava satisfeito com a declaração de seu amigo; sentia-se isso em sua voz. Murmurei para mim mesmo que o golpe é este: todo dia acordar cedo, ouvir minha aula de esperanto e depois se houver alguma aula de ginástica pelas imediações topar também, mens sana in corpore sano, no fim do mês os amigos vão ficar espantados, como o Braga está bem! Este pensamento me reconfortou; estendi a mão para pegar um cigarro na mesinha-de-cabeceira, mas fumei com um certo remorso. No fundo o esperanto deve ser contra o tabagismo, assim como é favorável ao escotismo.

"Mi estas bruna". Isto quer dizer: eu sou moreno. Mi estas bruna, ó filhas de Jerusalém, dizia a Sulamita. A esta hora Joana deve estar no carro daquele palhaço, toda aconchegada a ele, meio tonta de uísque, vai para o apartamento dele - um imbecil que não sabe uma só palavra de esperanto! A vida é triste, Sizenando.

Rio, junho 1958. 

Retirada do livro 200 Crônicas Escolhidas – as melhores de Rubem Braga. Editora Record: 17ª ed.

segunda-feira, 28 de março de 2011

POEMINHA DA RESISTÊNCIA

Quando preciso partir,
Poder ficar
Quando necessário sorrir,
De repente chorar
Quando o ódio surgir,
Inevitavelmente amar

Quando a vida brincar de esconder
Todas as cores e insistir em semear
A dúvida no chão que pisas

Olhe pela janela e assista a eterna primavera
Que todas as manhãs vem lhe trazer
Bom dia

* * *
Goiânia, 28 mar 2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

O vinho mais antigo do mundo

Hoje foi aberta em Londres a garrafa daquele que é oficialmente considerado o champanhe mais antigo do mundo, produzido pela casa francesa Perrier Jouët no ano de 1825. Para apreciá-lo, foi escolhido um seletíssimo grupo de doze renomados degustadores.

Penso que deve ser um privilégio sentir o sabor de algo tão raro, embora haja controvérsias sobre o fato do aludido vinho ser o mais antigo de todos. Ainda assim, não há que ser desmerecida a oportunidade dada a cada um daqueles doze indivíduos, a partir de hoje declarados os doze guardiões do segredo contido naquela garrafa.

Penso ainda nas lembranças diluídas em cada gota do divino líquido - as mãos da jovem camponesa nascida na província de Champagne, de pele queimada pelo sol, recolhendo cuidadosamente os cachos de uvas pendentes no parreiral, entregando-os à sua mãe, que tratava de ajeitá-los nos caixotes de madeira, até o dia em que ela própria, já no papel de mãe, é quem guardará as uvas, enquanto sua filha executará a tarefa que um dia lhe incumbiu.

Penso nas carroças conduzidas pelos agricultores circunspectos, homens de sorrisos raros, que ao final da tarde, quando o sol se despedia da vasta planície coberta pelos vinhedos, apareciam para recolher os caixotes abarrotados de uvas, as quais eram levadas para a prensagem e depois fermentadas em velhos barris de carvalho.

Penso no poder que uma simples garrafa de vinho tem de atravessar incólume as barreiras do tempo - de geração em geração, por quase dois séculos percorrendo a árvore genealógica de uma família, enfrentando revoluções, guerras e toda espécie de fúria humana, para singelamente ser aberta e apreciada por uma dúzia de milionários arrogantes.

Penso que, por fim, à semelhança de uma garrafa rara de vinho, pode ser o amor antigo. Este também atravessa gerações, jamais fenece. Todavia, ao contrário de um bom vinho, os conservantes do amor antigo não garantem a estabilidade do seu sabor. Feito de tormentas, de explosões de ódio e paixão, o sabor do amor antigo pode restar amargo ou demasiado doce, a depender das condições climáticas em que foi cultivado.

Por isso, deixemos em paz o amor antigo.

* * *
Goiânia, 21 mar 2011.

sábado, 19 de março de 2011

Os reis de Dogtown

Hoje parei pra escutar a trilha sonora de um filme que para sempre guardarei no quarto das boas memórias, Lords of Dogtown. Em breves linhas, o filme conta a história de um grupo de garotos que, aproveitando um período de estiagem na Califórnia da década de 1970, invadia quintais com suas "pranchas com rodas" a fim de se divertir nas piscinas vazias, dando início àquilo que futuramente seria muito mais que um esporte, transformando-se num verdadeiro movimento cultural, a cultura do skate. Dentre os atores, merece destaque o papel do australiano Heath Ledger, precocemente morto em janeiro de 2008, aos 28 anos de idade.

Não só pela história, que é muito bem contada, o filme merece ser visto pela excelente trilha sonora, que se encaixa perfeitamente nas cenas apresentadas. Só pra citar alguns nomes: Deep Purple, Jimi Hendrix, Neil Young, Black Sabbath, Rod Stewart, entre outros. Recomendo!


 
Neil Young - Old man

 
Sparklehorse and Radiohead - Wish you were here

 
Rod Stewart - Maggie May

sexta-feira, 18 de março de 2011

Gato na chuva - conto de Ernest Hemingway


Gato na chuva

Apenas dois americanos estavam hospedados no hotel. Eles não conheciam nenhuma das pessoas com quem tinham cruzado pelas escadas, no movimento de “entra e sai” do quarto. Estavam hospedados no segundo andar, num apartamento que ficava de frente para o mar e também de frente para a praça e o monumento de guerra. Havia enormes palmeiras e bancos verdes na praça. Quando o tempo estava bom havia sempre um pintor com o seu cavalete por lá. Os artistas gostavam das formas das palmeiras e das cores brilhantes dos hotéis, de frente para os jardins e para o mar. Italianos vinham de longe para ver o monumento de guerra. Era feito de bronze e reluzia na chuva. Estava a chover. Gotas de chuva caiam das palmeiras. A água formava poças nos caminhos de cascalho. O mar quebrava numa extensa linha, na chuva, e deslizava rumo à praia para retornar e quebrar novamente numa longa linha, repetindo o mesmo movimento. Os carros já tinham deixado a praça, passando pelo monumento de guerra. Do outro lado, um garçom olhava a praça vazia, da porta de uma lanchonete. A mulher americana, de pé, próxima à janela, observava o movimento. Fora do hotel, bem debaixo da janela deles, uma gata estava encolhida debaixo de uma das mesas verdes encharcadas. A gata se enroscava para não molhar.
– Eu vou descer e pegar aquela gatinha – disse a mulher americana.
- Deixa que eu cuido disso – o marido falou da cama.
- Não, pode deixar que eu vou. Pobre gatinha, tentando se proteger da chuva debaixo da mesa. O marido continuou sua leitura, apoiado em dois travesseiros nos pés da cama.
- Não vá se molhar – disse ele.
A mulher desceu as escadas e o dono do hotel levantou-se para a cumprimentar quando ela passou pelo seu escritório. Ele era velho e muito alto.
- Il piove – a mulher falou. Ela gostava do dono do hotel.
- Si, si, Signora, brutto tempo. O tempo está muito ruim.
Ele ficou de pé atrás de sua mesa, no fundo da sala escura. A mulher gostava dele. Apreciava o jeito extremamente sério com que ele recebia qualquer reclamação. Admirava sua dignidade. Gostava do jeito como ele a tratava. Gostava de como ele se sentia honrado em cuidar do hotel. Gostava de seu rosto velho e marcado pelo tempo, e de suas mãos grandes. Enquanto pensava nele, ela abriu a porta e olhou para fora. A chuva estava mais forte. Um homem com uma capa de chuva estava atravessando a praça em direção ao café. A gata deveria estar por perto, à direita. Talvez pudesse ir por debaixo dos telhados. Ainda estava na porta quando um guarda-chuva se abriu atrás dela. Era a empregada do quarto deles.
- A senhora não se deve molhar – ela sorriu, falando italiano.
Obviamente tinha sido mandada pelo dono do hotel. A americana andou pelo caminho de cascalho, com a empregada a segurar o guarda-chuva para que ela não se molhasse, até que chegou debaixo da janela de seu quarto. A mesa estava lá, com um verde brilhante após ter sido lavada pela chuva, mas o gato tinha desaparecido. De repente, ela se sentiu desapontada. A empregada olhou para a hóspede.
- Ha perduto qualque cosa, Signora?
- O gato – disse a mulher americana.
- Um gato?
- Si, il gatto.
- Um gato? – a empregada riu.
- Um gato na chuva?
- Sim – ela disse.
- Debaixo da mesa. Eu queria tanto que ela fosse minha. Queria ter uma gatinha. Quando ela falou em inglês o rosto da empregada se contraiu.
- Venha signora – ela disse.
- Devemos voltar para dentro. A senhora vai acabar se molhando.
- Está bem – disse a garota americana. Elas voltaram pelo caminho de cascalho e entraram pela porta. A empregada ainda ficou do lado de fora para fechar o guarda-chuva. Quando a garota americana passou pelo escritório, o padrone fez um gesto de cortesia, de sua mesa. A garota sentiu como se houvesse algo bem pequeno e apertado dentro de si. O padrone fez com que ela se sentisse insignificante e ao mesmo tempo muito importante. Subiu as escadas. Abriu a porta do quarto. George estava a ler, na cama.
- Conseguiu agarrar o gato? – ele perguntou, abaixando o livro.
- Não, desapareceu.
- Para onde será que ele foi? – ele perguntou, tirando os olhos do livro. Ela sentou na cama.
- Eu queria tanto aquela gatinha. Nem sei porque queria tanto. Queria aquela pobre gatinha. Deve ser horrível ser uma gatinha indefesa nessa chuva. George estava lendo de novo. Ela caminhou e sentou-se na frente do espelho da cómoda, olhando para si mesma, com um espelho na mão. Estudou seu perfil, primeiro de um lado, depois do outro. Então estudou a parte de trás de sua cabeça e a sua nuca.
- Você não acha uma boa ideia deixar meu cabelo crescer? – perguntou, olhando novamente seu perfil. George olhou e viu sua nuca, raspada como a de um garoto.
- Gosto dele como está.
- Estou tão cansada deste cabelo – ela disse. Estou tão cansada de parecer um rapaz. George mudou de posição na cama. Ainda não tinha desviado os olhos dela desde que havia começado a falar.
- Você está bem bonitinha – ele falou. Ela colocou o espelho na cómoda e foi para a janela e olhou para o lado de fora. Estava escurecendo.
- Quero puxar meu cabelo para trás, bem preso e liso, e fazer um coque bem grande para que eu o sinta. E quero uma gatinha para sentar no meu colo e fazer ronrom quando eu fizer carinho nela.
- É – George disse da cama.
- E eu quero comer numa mesa com meus próprios talheres e quero velas. E quero que seja primavera, quero escovar meu cabelo na frente de um espelho e quero uma gatinha e roupas novas.
- Ora, cale a boca e vá ler alguma coisa – disse George. Ele estava lendo de novo. Sua esposa estava olhando pela janela. Agora o céu estava bastante escuro e a chuva continuava caindo nas palmeiras.
- De qualquer modo, eu quero um gato – ela disse
- Eu quero um gato. Quero um gato agora. Se não posso ter cabelos compridos nem uma distração, posso ter um gato sim. George não estava ouvindo. Estava lendo seu livro. Sua mulher olhou pela janela e viu que a luz da praça estava acesa. Alguém bateu na porta.
- Avanti – George disse. Ele levantou os olhos do livro. A empregada estava de pé na porta. Ela segurava um grande gato malhado, apertado fortemente contra seu corpo.
- Com licença – ela disse – O padrone mandou trazer isso para a Signora. 

Ernest Hemingway (21 de julho de 1899 / 02 de julho de 1961): escritor norte-americano. Sua obra mais famosa é o singelo e intenso livro "O velho e o mar", com o qual Hemingway arrebatou o Nobel de Literatura em 1954. Homem movido por emoções intensas, gostava de caçadas e pescarias em alto mar. Também foi correspondente de guerra, tendo cobrido a Primeira Guerra Mundial, onde foi gravemente ferido, e posteriormente a Guerra Civil Espanhola. Desde cedo acostumou-se com o ambiente rude do interior americano, sempre acompanhando o pai, médico na zona rural do seu estado natal, Illinois. Fato que o marcou profundamente foi o suicídio paterno ocorrido no ano de 1929, o que de certo modo refletiu na personalidade conturbada dos seus personagens, muitas vezes atormentados pela consciência inevitável da morte. Dono de um gênio irascível, Hemingway não conseguia manter a estabilidade em seus casamentos, tendo contraído matrimônio por 4 vezes. No fim da vida, já doente e com lapsos de memória, tal qual o pai, Ernest Hemingway valeu-se de um rifle de caça e tirou a própria vida, aos 61 anos de idade.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Banho

A resistência do chuveiro queimara na noite anterior e sabia que o banho gelado na manhã seguinte seria inevitável. Suspirou profundamente.

Ainda pensava nela, é verdade – a maneira como desfilava pelos cômodos do seu pequeno apartamento.  Um sol profundo parecia iluminar e aquecer seu coração sombrio durante aqueles dias. E disso sentia falta. Mas não esboçava nenhuma melancolia, apenas uma lembrança passageira que logo se dissipou ao colocar as mãos no livro que estava lendo antes de dormir.

Passeava pelas ruas insalubres de Havana enquanto consumia as linhas daquele livro de contos do Pedro Juan Gutiérrez. Pensou que gostaria de viver daquele modo, desvencilhado das convenções sociais, movido apenas pelos extintos e pelas necessidades fisiológicas do seu corpo humano.  Álcool e sexo, resumindo em duas palavras. Porém, mal terminado um dos contos, lembrou que precisava dormir, acordaria cedo para o trabalho.

Levantou-se aborrecido, o tempo correra mais rápido que o planejado. Dormindo em pé, dirigiu-se para o banheiro. Acendeu a luz e uma forte ardência invadiu seus olhos. Esperou alguns instantes até que pudesse abri-los completamente.

Entrou no box e abriu de uma só vez a torneira do chuveiro. Esquecera-se da resistência queimada. Assustou-se. Deu um passo para trás e ficou espiando a água que corria para o ralo. Vagarosamente deixou que a água gelada percorresse seus pulsos.  Era maio e fazia frio. Sentiu o coração acelerar naquele instante, como se prenunciasse uma tragédia inevitável.

De olhos fechados, deu um passo a frente e sentiu a água gelada invadindo toda a extensão da pele. Suspendeu a respiração enquanto sentia o coração batendo forte. Quis gritar, mas prendeu a voz. Com as mãos apoiadas na parede, sentia a contração pulmonar. Respirou fundo e segurou o ar mais uma vez.  Um pequeno sorriso desenhou-se em seu rosto ao perceber que estava vivo. 

* * * 
Goiânia, 16 mar 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

Drummondianas


Consolo na praia

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
 
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.


Clique AQUI e ouça o próprio Drummond recitando este poema.  

terça-feira, 15 de março de 2011

O BOXEADOR

 
O voo dela partiria às sete da manhã. Já passava das onze da noite, precisava ir, acordaria cedo. O pai a levaria ao aeroporto na manhã seguinte. Despediram-se.

- E então, amanhã você vai aparecer por lá para um último adeus?

- Não vou prometer, mas pode ser que eu apareça...

Não eram namorados a rigor. Conheceram-se há uns dois anos numa exposição sobre Portinari. Ele, fotógrafo, cobria o evento para um jornal. Ela, estudante de cinema, buscava nos quadros inspiração para um curta-metragem. Ela o repreendeu quando o fotógrafo sacou a câmera e registrou sua imagem.

- Hei, não te dei permissão para tirar fotos minhas!

- Peço desculpas... é que estou um pouco entediado. Já tirei pelo menos dez fotos de cada quadro desses.

Ela não se conteve ante o argumento do rapaz e sorridente lhe estendeu a mão.

- Prazer, Silvia! E você, como se chama?

- Constantino, mas pode me chamar de Tino. É assim que meus amigos me tratam.

Trocaram telefones, marcaram o primeiro encontro. Por uma questão de economia e praticidade, o apartamento dele acabava sendo o local dos encontros amorosos com Silvia. Ela não parecia se importar muito, achava tudo até certo ponto exótico e divertido. Os dois viviam em universos completamente diferentes, mas resolviam sem dificuldades as diferenças entre quatro paredes.

No pequeno apartamento, o único adereço de decoração na sala era a figura imponente de Che Guevara emoldurada na parede, empunhando um charuto Cohiba, o preferido do companheiro Fidel. Jornalista de formação, Tino acabou descambando para a fotografia, já que se dizia um redator incompreendido, cujo estilo minimalista somente seria reconhecido dali a cinquenta anos.

Silvia era filha única de um próspero industrial do ramo têxtil. Os tecidos fabricados pelo pai começavam a ser exportados para alguns países da América Latina. Ela não sabia o que era passar dificuldades. Já Tino perdera o pai ainda cedo, aos 9 anos de idade. A mãe, enfermeira, fazia o possível para que nada faltasse a ele e ao irmão mais novo. Aos catorze, deixou a casa da mãe e foi para a capital, onde concluiu o ensino médio e iniciou o curso de jornalismo. Ganhava a vida como freelancer, vivia no limiar da dureza, mas como um bom lutador de boxe, não baixava a guarda para as vicissitudes da vida.

- Você bem que podia vir comigo para Los Angeles. Você sabe que tenho condições de custear nós dois... além disso, logo você arrumaria um emprego por lá! – dizia Silvia na véspera da partida.

- Eu, nos Estados Unidos, sustentado por você? Jamais aceitaria isso. E que emprego me aguardaria por lá, entregador de pizza? Se ainda fosse Cuba, quem sabe eu pensasse melhor na sua proposta. – respondia Tino, com certo ar de indignação.

- Cuba! Havana não passa de uma cidade em ruínas, com seus carros enferrujados, prédios prestes a cair, prostitutas espalhadas pelos becos escuros esperando que algum turista desembolse uns poucos dólares em troca de sexo. É a decadência em estado bruto. O que você faria lá?

- Um país decadente para pessoas decadentes! Lá seria o ideal pra mim! – retorquiu Constantino.

Ela abandonou a discussão. Ele acendeu um cigarro e foi até a cozinha, de onde voltou com meia garrafa de uísque e dois copos.

- Tá frio lá fora. Melhor a gente beber um pouco.

- Fecha a janela antes.

Ele se levantou, ficou parado por alguns instantes na janela de onde contemplou o movimento das ruas enquanto soltava a fumaça do cigarro.

- Então quer dizer que a moça vai pra Califórnia, estudar cinema em Los Angeles! Em pouco tempo ficará íntima dos grandes estúdios, testemunhará a vida das celebridades de Hollywood e caminhará em meio àquele lixo que permeia a mente dos norte-americanos. Só espero que você não se esqueça do seu país. Aqui a gente tem matéria prima de sobra pra colocar no cinema.

- Eu não vou me esquecer de você, Constantino!

Tino deu um trago no uísque e curvou um pouco a cabeça.

- Não prometa aquilo que não é passível de promessas. Por quanto tempo você ficará lá? Dois, três, cinco anos? Não importa. O roteiro é sempre o mesmo: a estudante estrangeira desperta a curiosidade de todos, professores, colegas, enfim. Até que um belo dia ela encontra o sujeito perfeito, o típico californiano, pele bronzeada, olhos azuis e cabelos loiros. Um bom sujeito, diga-se de passagem, modelo de pai ideal, com quem ela terá dois filhos e viverá feliz para sempre!

- Não gostei muito do seu roteiro. Achei piegas, previsível.

Ele ficou em silêncio, olhando em direção à janela que não ficou totalmente fechada.

- E o seu livro, já concluiu? – perguntou Silvia, tentando reestabelecer o diálogo.

 - Na verdade acho que não comentei com você, mas comecei a escrever outra história...

Há cinco anos ele começara a escrever sobre a história de um guerrilheiro que mesmo após ter sido torturado pelos militares e ficado cego, caminhou por duas semanas em meio à selva e conseguiu se salvar, graças a ajuda de índios que cuidaram dele. Nem ele próprio sabia se aquilo era ficção ou realidade. Seu dilema era contar o desfecho real da história ou dar um final digno ao seu personagem, já que em vida o herói foi acusado de ter engravidado uma indiazinha adolescente da tribo que o acolheu.

- Por que você não me contou sobre o novo livro? Como você é egoísta!

- Não tenho nada de concreto ainda, são apenas rascunhos. Assim que eu concluir os primeiros dois capítulos, eu te mando, pode ser?

Não havia livro nenhum, a não ser a história do guerrilheiro estuprador. Constantino assistia a felicidade dançando nos olhos de Silvia ante a perspectiva de realizar um sonho antigo, colocar em prática um projeto que por anos alimentara. Ele não tinha projeto algum, não queria parecer uma nulidade para ela. A vida medíocre que levava não lhe dava perspectiva de futuro. Sua única preocupação era conseguir alguma foto interessante no dia seguinte, fosse um momento de dor ou uma alegria clandestina, e sair batendo na porta dos jornais em busca da melhor oferta.

Silvia... no fundo achava graça em saber como ela permaneceu ao seu lado por tanto tempo. O que vira nele? Moça rica, boa família, poderia ter namorado caras bem sucedidos, mas preferia ficar ali naquele quarto minúsculo, respirando o ar que recendia à nicotina e desodorante barato. Por um último momento acariciou sua pele branca, respirou o seu perfume importado, Dolce & Gabbana, ela dizia. Beijou-a. Tentou guardar o sabor do seu hálito, mas no momento em que os lábios se desprenderam o gosto se desfez, assim como a fumaça que se dilui no ar.

Olhou-a calmamente com seus olhos de fotógrafo, buscando o melhor enquadramento, de modo que aquela fosse a última imagem dela a cristalizar-se em suas retinas. Ela levantou-se, vestiu a roupa e saiu. Sabia que ele não apareceria na manhã seguinte.

Ele permaneceu imóvel na cama, os olhos fixos na janela entreaberta. Por um instante considerou a possibilidade de ir ao aeroporto para se despedir de Silvia. Naquele momento foi tomado de sobressalto por uma estranha constatação, a de que jamais se encontraram à luz do dia. Melhor assim, as sombras da noite cuidam de encobrir certos defeitos e fraquezas humanas. Acendeu novo cigarro. Mesmo com o coração pungente, sabia manter-se ereto, a cabeça erguida, ainda que ensanguentada, e esquivar-se das armadilhas do destino, como o fazem os grandes boxeadores.

* * *

Goiânia, 27 set. 2010.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Memória da guerra


GUERREIROS

não vês as mesmas coisas
              como eu as vejo
não tens as mesmas crenças
              as mesmas lendas
              as mesmas leis
não és o mesmo que eu

é outra a roupa que me veste
é outra a cor de minha pele

eu falo eu canto eu rezo
em outra língua

em outra língua
eu amo e choro e calo

a outro deus
eu devo a minha vida

por esse deus
te levo a morte


(Izacyl Guimarães Ferreira)


Conheça mais sobre o autor em:  
Poesia.net
Jornal de Poesia

 

sábado, 12 de março de 2011

Só na maciota...

by Norman Rockwell

Pra começar bem o domingão, só na maciota, sem aquela preguiça e descrença que nos invade o espírito quando adentramos o primeiro dia da semana...

DOMINGO

A palavra é originária do latim dies Dominicus.

Povos pagãos antigos reverenciavam seus deuses dedicando este dia ao astro Sol o que originou outras denominações para este dia, em inglês diz-se Sunday, e no alemão Sonntag, com o significado de "Dia do Sol".

Quer saber mais? Espia AQUI!

 
Mighty Show Stoppers - Hippy Skippy Moon Strut

 
Menahan Street Band - Home Again

  
Tim Maia Racional - Bom senso

quarta-feira, 9 de março de 2011

Eternamente Vinicius

"Vinicius é o único poeta brasileiro que ousou viver sob o signo da paixão. Quer dizer, da poesia em estado natural"
Carlos Drummond de Andrade

"Se eu tivesse, se eu tivesse muitos vícios, o meu nome, o meu nome era Vinicius... se estes vícios fossem muito imorais, eu seria o Vinicius de Moraes"
Provocação criada pelos amigos do poetinha


Balada do mangue

Pobres flores gonocócicas
Que à noite despetalais
As vossas pétalas tóxicas!
Pobre de vós, pensas, murchas
Orquídeas do despudor
Não sois Lœlia tenebrosa
Nem sois Vanda tricolor:
Sois frágeis, desmilingüidas
Dálias cortadas ao pé
Corolas descoloridas
Enclausuradas sem fé,
Ah, jovens putas das tardes
O que vos aconteceu
Para assim envenenardes
O pólen que Deus vos deu?
No entanto crispais sorrisos
Em vossas jaulas acesas
Mostrando o rubro das presas
Falando coisas do amor
E às vezes cantais uivando
Como cadelas à lua
Que em vossa rua sem nome
Rola perdida no céu...
Mas que brilho mau de estrela
Em vossos olhos lilases
Percebo quando, falazes,
Fazeis rapazes entrar!
Sinto então nos vossos sexos
Formarem-se imediatos
Os venenos putrefatos
Com que os envenenar
Ó misericordiosas!
Glabras, glúteas caftinas
Embebidas em jasmim
Jogando cantos felizes
Em perspectivas sem fim
Cantais, maternais hienas
Canções de caftinizar
Gordas polacas serenas
Sempre prestes a chorar.
Como sofreis, que silêncio
Não deve gritar em vós
Esse imenso, atroz silêncio
Dos santos e dos heróis!
E o contraponto de vozes
Com que ampliais o mistério
Como é semelhante às luzes
Votivas de um cemitério
Esculpido de memórias!
Pobres, trágicas mulheres
Multidimensionais
Ponto morto de choferes
Passadiço de navais!
Louras mulatas francesas
Vestidas de carnaval:
Viveis a festa das flores
Pelo convés dessas ruas
Ancoradas no canal?
Para onde irão vossos cantos
Para onde irá vossa nau?
Por que vos deixais imóveis
Alérgicas sensitivas
Nos jardins desse hospital
Etílico e heliotrópico?
Por que não vos trucidais
Ó inimigas? ou bem
Não ateais fogo às vestes
E vos lançais como tochas
Contra esses homens de nada
Nessa terra de ninguém!

Oxford, 1939



Samba pra Vinicius / A gente vai levando

terça-feira, 8 de março de 2011

MÚSICA NEGRA


E viva à música negra universal, seja aquela que um dia ecoou pelas vastas plantações de algodão do Alabama e Mississipi, seja aquela que atravessou os canaviais caribenhos, seja aquela que ascendeu aos céus carregadas pelos atabaques escondidos nas senzalas. E viva, mais uma vez, à negra música, carregada de tanta dor e sentimento, mãe do blues, do samba, do jazz, do choro, do soul, do gospel, do rock, do funk, do R&B, do maracatu, do reggae, do hip hop, do batuque, do jongo, do rap e de toda música moderna. Até viveríamos sem ela... mas que graça teria viver?

Nina Simone - Ain't got no... I've got life

Bill Withers - Ain't No Sunshine


Cartola e Leci Brandão - Tive sim


Nat King Cole - When I fall in love


Marvin Gaye - What's going on?


Billy Preston & Ray Charles - Agent Double O Soul


Pixinguinha - Arquivo Trama/Radiola

Bob Marley - Redemption song

 Umbabarauma/Ponta de lança africano - Jorge Ben Jor e Mano Brown

Ray Charles - Georgia on my mind

Afro Cuban All Stars - Amor verdadero

segunda-feira, 7 de março de 2011

Regalo português


HORAS MORTAS
 
O teto fundo de oxigênio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-se a quimera azul de transmigrar.

Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.

Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!

Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.

Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nômadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!

Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.

E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.

E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, os imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.

E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!


Cesário Verde (1855 - 1886) - poeta português

Sobre o poeta: Wikipédia


E pra escutar, nada melhor que boa música portuguesa: Madredeus.

Ao longe o mar

domingo, 6 de março de 2011

Aparte musical

Enquanto o carnaval corre solto, vou degustando meu uísque e ouvindo um pouco disso aqui, sem saber ao certo se existe alguma lógica nas minhas escolhas. Mas o que é mesmo lógica neste mundo de insanos? Pressinto e sinto palpitar uma forte tendência a falar coisas que não devia... enfim, melhor deixar pra lá! O gelo está derretendo, então vou me apressar.

Gonzaguinha - Feliz

Renato Teixeira - Amora (part. Osvaldinho do acordeon)

Universo no teu corpo - Taiguara

Milton Nascimento - Para Lennon e McCartney / Maria, Maria

Amado Maita - Gestos

sábado, 5 de março de 2011

DIÁRIOS DE MOTOCICLETA

Ernesto, Alberto e "La Poderosa" - ano de 1952


Faleceu hoje o médico e escritor Alberto Granado Jiménez, aos 88 anos de idade. Granado foi amigo na juventude de Ernesto Guevara de la Serna, "El Che", a quem conheceu quando este tinha 14 anos e ele, 20.

Sua história de vida tornou-se popular graças ao filme Diários de Motocicleta (2004), dirigido pelo cineasta brasileiro Walter Sales. Bioquímico de formação, Alberto e o então estudadente de medicina Ernesto empreenderam viagem pela América do Sul a bordo de uma velha motocicleta, "La poderosa". Partindo da cidade de Córdoba, na Argentina, os dois percorreram cerca de 10.000 quilômetros, passando pelo Chile, Colômbia e Peru.

Após oito meses de viagem, Alberto resolveu fixar residência na Venezuela. Ernesto, por sua vez, impactado pela miséria e pela desigualdade social que conheceu na viagem, transformou-se num revolucionário idealista, gravando para sempre seu nome na história como "Che Guevara".

Após cinco anos na Venezuela, já casado e com filhos, Alberto Granado mudou-se para Cuba, onde foi um dos responsáveis pela implantação da tradicional Escola de Medicina de Santiago de Cuba. Os dois amigos encontraram-se pela última vez em 1964, ocasião em que Che já planejava levar os ideais da revolução cubana a outros países da América Latina.

Diários de Motocicleta - cena final (despedida entre Alberto e Ernesto)



Al otro lado del río - Jorge Drexler (trilha sonora do filme)

NA BOCA

Sempre tristíssimas estas cantigas de carnaval
Paixão
Ciúme
Dor daquilo que não se pode dizer

Felizmente existe o álcool na vida
E nos três dias de carnaval éter de lança-perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
E gritava pedindo o esguicho de cloretilo:
- Na boca! Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
Outras porém faziam-lhe a vontade.

Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos
[viciados
Dorinha meu amor...
Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro:
- Na boca! Na boca! 

Manuel Bandeira (Recife, 19/04/1886 - Rio de Janeiro, 13/10/1968)

Saiba mais sobre a vida e obra do poeta no site Releituras.

quinta-feira, 3 de março de 2011

TESTAMENTO

Um dia recebi o título de poeta.
Guardei-o, pequeno relicário
incandescente que por tempos
contemplei no quarto escuro da alma.

Hoje, para o bem da poesia,
dele abdico.
Não fugirei como Rimbaud, que
partiu aos vinte e poucos para o
norte da África numa viagem
sem volta.

Não serei um mercador de armas
como o jovem poeta francês.
Quando muito, venderei lembranças
num antiquário de peças sem valor.

Tudo tende à dissipação dentro
da manhã nublada.
Os sentimentos aninhados nos
quadrantes da memória se diluem
no emaranhado de sinapses.

O que restará de matéria poética,
dessarte?
Talvez o voo cego de um pássaro
em extinção,
ou ainda o brilho no olhar da moça
sorridente, fossilizado na revista
dominical.

Doravante, as indagações tornaram-se
irrelevantes.
Silente, com dois olhos que queimam,
serei apenas mais um espectador
dos mistérios da vida e seu poder
de transformação.


* * *

Goiânia, 03 de março de 2011

terça-feira, 1 de março de 2011

BEATLES



Como já dediquei um post ao inesquecível George Harrison, tratarei de recordar também os demais integrantes do Quarteto de Liverpool, cada qual trilhando seu próprio caminho após a dissolução daquela que foi a maior e mais influente banda de  rock de todos os tempos.



Paul McCartney - Band on the run

John Lennon - Jealous guy


Ringo Starr - Liverpool 8