Me pediram para que escrevesse uma crônica para a edição dominical de certo jornal. Minto. Pediram porra nenhuma. Apenas inventei essa circunstância a fim de dar vazão às palavras represadas em minha mente, que teimosamente insistem em repelir o branco do papel.
Teve uma chuva que acabou há pouco aqui na capital goiana. Restou apenas a garoa fina. Os garotos do prédio ao lado conversam alto na portaria, suas vozes repercutem como se estivessem no interior da minha sala. Lembro dessa época, minha garotice no interior do Tocantins... que pensava eu àquelas alturas? Navegava no raso da vida, apenas o trivial do existir. Estudar, arrumar emprego, comprar carro, casa. Acho que nem isso pensava. Se pensei, deixei por lá, enterrado sob as cangas do meu rincão natal.
É começo de ano, e parece de bom tom fazer promessas, se esforçar para ser alguém melhor. Sei que não fiz nada disso. Se um ano passou e outro começou, isso só ocorreu porque convencionamos dividir o tempo. Passarinho lá sabe o que é ano novo? Ele conhece é as estações do ano, quando faz chuva ou sol, quando se é prudente cantar e arrumar uma companheira pra acasalar e até mesmo a hora de morrer, em que pesem nunca terem achado o corpo de algum deles após morrer de simples velhice. Será que morrem de verdade, digo, naquelas ocasiões em que não são alvo de pedrada de estilingue, comida com veneno ou tiro de espingarda de pressão? Tolices...
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