A verdade é que nem moravam longe um do outro. Setores diferentes da cidade, mas fronteiriços.
Todavia, há mais de ano não se viam, e há vários meses deixaram de trocar palavras. Sem brigas, rancores ou remorsos. É “a vida que segue”. Não é assim que diz toda sexta-feira pela manhã um certo apresentador de telejornal?
E cada um deles agora habitava o seu universo particular, cultivando amores, desejos e frustrações. De olhos bem abertos, sob a luz que nos guia e nos aquece a alma.
Há horas, porém, que os corpos tomados pelo sono adentram as paisagens oníricas de uma certa existência paralela a que chamam de sonhos. Seres míticos, paisagens surreais e o tempo que, ao nos tocar a face, nos rejuvenesce, em vez de ficarmos mais velhos. E nessas horas de devaneio, de “acordar-se para dentro”, como definiu Quintana, retomamos o diálogo esquecido. Mas sempre é chegada a hora de “acordar-se para fora” e novamente encarar a aspereza da vida, por vezes bela – a vida – e hastear as suas velas, à espera do vento que possa conduzi-la por mares menos tormentosos.
Haveria uma despedida? Melhor deixar as coisas no estado em que se encontram, adormecidas, serenadas e sepultadas pelo tempo que um dia os uniu, como dois continentes fragmentados pela incansável força da natureza.
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