sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O velho Clint salva o macho da extinção

Por Xico Sá



E o mundo não se acabou.

O crepúsculo do macho-jurubeba, inimigo público declarado dos novos costumes metrossexuais, foi adiado mais uma vez.
O responsável pela façanha foi, para variar, o velho Clint, Clint Eastwood, 80, que na semana passada vetou o uso de photoshop na capa da reviste “M”, do jornal francês “Le Monde”.
Só o Peréio e o Clint salvam.
Homem que é homem não pode se envergonhar das rugas que fizeram residência nos seus rostos.
Outro que também se revelou adepto do jurubebismo, para nossa surpresa, foi o físico britânico Stephen Hawking, que completou ontem 70 anos.
Com dois casamentos e três filhos, revelou que pensa mais nas mulheres do que nos mistérios do buraco negro e outros enigmas do cosmo. Bravíssimo.
Além do Clint, do Peréio e agora do Hawking, especula-se sobre a existência de uma meia dúzia do gênero no Brasil.
No Crato, por exemplo, existiriam dois, ali na subida da serra a caminho do Exú.
Há quem diga ter visto outro na Mooca, SP. Um quarto teria catalogado na Bomba do Hemetério, no Recife.
Você conhece algum?
Ajude-nos a localizá-lo. Campanha de utilidade pública para salvar estes seres da extinção.
Falo do macho roots, conservado em barris de carvalho, o homem ainda com todos os seus defeitos de fábrica, todos os componentes em ordem.
É, ainda há esperança, velho Clint. Os machos ainda não dançaram de vez, como dizia o título daquele romance de mr. Norman Mailer.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

CALEIDOSCÓPIO


Que lá sei eu dos insondáveis mistérios da vida e da morte? Pertenço a tempo algum? Houve um instante em que eu sequer existia. Hoje, assisto-me transmutado no corpo de um homem que acorda, trabalha, faz suas refeições regulares, por vezes ri de si mesmo e ao final de cada dia dorme, à espera de sonhos purificados, intocados pela decadência humana.

Que certezas carrego? Sei do sol que curte minha pele nas primeiras horas da manhã, da primavera que deita suas flores pelos jardins ocultos da cidade, das constelações que há milênios guiam os homens pela face da Terra.

Sei da poeira dos meus antepassados que diuturnamente respiro, das malfadadas histórias de amor contadas pelos poetas suicidas, do silêncio que cobre os jazigos de quem um dia partiu e hoje se sente saudades.

Dolorosamente, sei que sou o resultado não das coisas que fiz, mas daquelas que deixei de realizar. A única certeza que me resta é a dúvida. 

Goiânia, 13 jan 2012.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

«E N T R E A S P A S»


"Só os deuses podem prometer, porque são imortais"

Jorge Luis Borges (1899 / 1986) escritor argentino

domingo, 8 de janeiro de 2012

GIBRALTAR



A verdade é que nem moravam longe um do outro. Setores diferentes da cidade, mas fronteiriços.

Todavia, há mais de ano não se viam, e há vários meses deixaram de trocar palavras. Sem brigas, rancores ou remorsos. É “a vida que segue”. Não é assim que diz toda sexta-feira pela manhã um certo apresentador de telejornal?

E cada um deles agora habitava o seu universo particular, cultivando amores, desejos e frustrações. De olhos bem abertos, sob a luz que nos guia e nos aquece a alma.

Há horas, porém, que os corpos tomados pelo sono adentram as paisagens oníricas de uma certa existência paralela a que chamam de sonhos. Seres míticos, paisagens surreais e o tempo que, ao nos tocar a face, nos rejuvenesce, em vez de ficarmos mais velhos. E nessas horas de devaneio, de “acordar-se para dentro”, como definiu Quintana, retomamos o diálogo esquecido. Mas sempre é chegada a hora de “acordar-se para fora” e novamente encarar a aspereza da vida, por vezes bela – a vida – e hastear as suas velas, à espera do vento que possa conduzi-la por mares menos tormentosos.


Haveria uma despedida? Melhor deixar as coisas no estado em que se encontram, adormecidas, serenadas e sepultadas pelo tempo que um dia os uniu, como dois continentes fragmentados pela incansável força da natureza.

Reflexão


Se Deus não existisse, o homem seria incapaz de realizar o bem.

Glauber Ramos

sábado, 7 de janeiro de 2012

Criolo Doido


O cara é foda mesmo. Depois de ter sido homenageado publicamente por Chico Buarque durante um show deste, em agradecimento à versão do rapper para a música "Cálice", Criolo se consagrou como o grande vencedor do VMB 2011, faturando os prêmios de Melhor Disco com o álbum Nó na Orelha (2010), Melhor Música, com a canção Não existe amor em SP, além de ter sido escolhido o artista Revelação. Justo reconhecimento de um artista que há um bom tempo vem trabalhando duro nas quebradas do cenário musical brasileiro.

E a boa notícia: o cara disponibilizou o disco Nó na Orelha pra download em seu site pessoal. Só dar uma conferida: www.criolo.net


Cálice (por Criolo)


Como ir pro trabalho sem levar um tiro
Voltar pra casa sem levar um tiro
Se as três da matina tem alguém que frita
E é capaz de tudo pra manter sua brisa


Os saraus tiveram que invadir os botecos
Pois biblioteca não era lugar de poesia
Biblioteca tinha que ter silêncio,
E uma gente que se acha assim muito sabida


Há preconceito com o nordestino
Há preconceito com o homem negro
Há preconceito com o analfabeto
Mais não há preconceito se um dos três for rico, pai.


A ditadura segue meu amigo Milton
A repressão segue meu amigo Chico
Me chamam Criolo e o meu berço é o rap
Mas não existe fronteira pra minha poesia, pai.


Afasta de mim a biqueira, pai
Afasta de mim as biate, pai
Afasta de mim a coqueine, pai
Pois na quebrada escorre sangue,pai.


Pai
Afasta de mim a biqueira, pai
Afasta de mim as biate, pai
Afasta de mim a coqueine, pai.
Pois na quebrada escorre sangue.


Bogotá

Não existe amor em SP


Lion Man

Subirusdoistiozin

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

sobre nada

Me pediram para que escrevesse uma crônica para a edição dominical de certo jornal. Minto. Pediram porra nenhuma. Apenas inventei essa circunstância a fim de dar vazão às palavras represadas em minha mente, que teimosamente insistem em repelir o branco do papel.

Teve uma chuva que acabou há pouco aqui na capital goiana. Restou apenas a garoa fina. Os garotos do prédio ao lado conversam alto na portaria, suas vozes repercutem como se estivessem no interior da minha sala. Lembro dessa época, minha garotice no interior do Tocantins... que pensava eu àquelas alturas? Navegava no raso da vida, apenas o trivial do existir. Estudar, arrumar emprego, comprar carro, casa. Acho que nem isso pensava. Se pensei, deixei por lá, enterrado sob as cangas do meu rincão natal.

É começo de ano, e parece de bom tom fazer promessas, se esforçar para ser alguém melhor. Sei que não fiz nada disso. Se um ano passou e outro começou, isso só ocorreu porque convencionamos dividir o tempo. Passarinho lá sabe o que é ano novo? Ele conhece é as estações do ano, quando faz chuva ou sol, quando se é prudente cantar e arrumar uma companheira pra acasalar e até mesmo a hora de morrer, em que pesem nunca terem achado o corpo de algum deles após morrer de simples velhice. Será que morrem de verdade, digo, naquelas ocasiões em que não são alvo de pedrada de estilingue, comida com veneno ou tiro de espingarda de pressão? Tolices...

Encerro aqui o que não comecei. Como certa vez escreveu o gaúcho Fabrício Carpinejar, “tornei-me o diário de uma viagem cancelada”. E você, caro amigo leitor, não perca seu tempo lendo bobagens, o tempo é valioso, valioso demais e cabe a você não deixá-lo escoar displicentemente pelo ralo da futilidade. Esteja em paz.