Zé Keti
A voz do morro
José Flores de Jesus (* 16/09/1921 – Rio de Janeiro, RJ; † 14/11/1999 – Rio de Janeiro, RJ), o inesquecível Zé Keti, certa vez, durante o Show Opinião, justificou assim a origem do seu apelido:
Quando minha mãe ficou sozinha, pra me sustentar, ela foi ser empregada doméstica... quando minha mãe voltava eles diziam assim pra ela: – Dona Leonor, o Zé ficou quieto, o Zé ficou “quetinho”! – Zé quetinho, Zé quetinho e acabou Zé Keti. Aí então eu comecei a escrever meu apelido com “K”, porque K tava dando sorte, tava por cima... Kennedy, Krushev e Kubitschek. É camaradinha, mas eu acho que a sorte agora mixou, hein? (referindo-se ao início da ditadura militar).
O nome de Zé Keti figura no panteão dos imortais do samba, ao lado de Cartola, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa, Ismael Silva, Moreira da Silva e tantos outros. Só para se ter idéia, Zé Keti foi escolhido diretor artístico do lendário Zicartola, cabendo a ele selecionar os sambistas e compositores que se apresentariam no bar comandado pelo casal Cartola e Dona Zica da Mangueira. Foi numa dessas ocasiões que ocorreu o lançamento do cantor e compositor Paulo César, o Paulinho da Viola, assim apelidado pelo seu amigo Zé Keti.
Foi também na época do Zicartola (primeira metade da década de 1960) que Zé Keti estabeleceu contato com artistas da Bossa Nova, entre eles Carlos Lyra e Nara Leão. Nascia aí a idéia do Grupo Opinião (já citado neste blog), que teve como inspiração um samba de Zé Keti, também chamado Opinião.
Zé Keti era um compositor versátil. Em certos momentos, seu lirismo se iguala a de um Cartola, como podemos perceber em Mascarada. Em outros momentos, sobressai a verve jocosa, característica do bom malando suburbano, tal qual um Moreira da Silva. Zé Keti também compôs marchas carnavalescas, até hoje entoadas, como é o caso de Máscara Negra.
Mas foi com as letras de protesto que as composições de Zé Keti ganharam um traço próprio, diferenciando-o dos compositores de samba tradicionais. Insurgindo-se contra o regime ditatorial, Zé Keti ousou compor sambas que contestavam os novos conceitos pregados pelos militares. Assim o fez em Opinião, música-protesto contra o movimento de desocupação das favelas e revitalização dos centros urbanos:
"Podem me prender
Podem me bater
Podem, até deixar-me sem comer
Que eu não mudo de opinião
Daqui do morro
Eu não saio, não
Se não tem água
Eu furo um poço
Se não tem carne
Eu compro um osso
E ponho na sopa
E deixa andar(...)"
No mesmo sentido é o samba O favelado, o qual destilava os seguintes versos:
“O morro tem sede
O morro tem fome
O morro sou eu, o favelado (...)”
Zé Keti faleceu em 14 de novembro, aos 78 anos, de falência múltipla dos órgãos. E com sua morte, o samba perdeu um dos seus artistas mais completos. E o morro perdeu o seu maior porta-voz.
Quando minha mãe ficou sozinha, pra me sustentar, ela foi ser empregada doméstica... quando minha mãe voltava eles diziam assim pra ela: – Dona Leonor, o Zé ficou quieto, o Zé ficou “quetinho”! – Zé quetinho, Zé quetinho e acabou Zé Keti. Aí então eu comecei a escrever meu apelido com “K”, porque K tava dando sorte, tava por cima... Kennedy, Krushev e Kubitschek. É camaradinha, mas eu acho que a sorte agora mixou, hein? (referindo-se ao início da ditadura militar).
O nome de Zé Keti figura no panteão dos imortais do samba, ao lado de Cartola, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa, Ismael Silva, Moreira da Silva e tantos outros. Só para se ter idéia, Zé Keti foi escolhido diretor artístico do lendário Zicartola, cabendo a ele selecionar os sambistas e compositores que se apresentariam no bar comandado pelo casal Cartola e Dona Zica da Mangueira. Foi numa dessas ocasiões que ocorreu o lançamento do cantor e compositor Paulo César, o Paulinho da Viola, assim apelidado pelo seu amigo Zé Keti.
Foi também na época do Zicartola (primeira metade da década de 1960) que Zé Keti estabeleceu contato com artistas da Bossa Nova, entre eles Carlos Lyra e Nara Leão. Nascia aí a idéia do Grupo Opinião (já citado neste blog), que teve como inspiração um samba de Zé Keti, também chamado Opinião.
Zé Keti era um compositor versátil. Em certos momentos, seu lirismo se iguala a de um Cartola, como podemos perceber em Mascarada. Em outros momentos, sobressai a verve jocosa, característica do bom malando suburbano, tal qual um Moreira da Silva. Zé Keti também compôs marchas carnavalescas, até hoje entoadas, como é o caso de Máscara Negra.
Mas foi com as letras de protesto que as composições de Zé Keti ganharam um traço próprio, diferenciando-o dos compositores de samba tradicionais. Insurgindo-se contra o regime ditatorial, Zé Keti ousou compor sambas que contestavam os novos conceitos pregados pelos militares. Assim o fez em Opinião, música-protesto contra o movimento de desocupação das favelas e revitalização dos centros urbanos:
"Podem me prender
Podem me bater
Podem, até deixar-me sem comer
Que eu não mudo de opinião
Daqui do morro
Eu não saio, não
Se não tem água
Eu furo um poço
Se não tem carne
Eu compro um osso
E ponho na sopa
E deixa andar(...)"
No mesmo sentido é o samba O favelado, o qual destilava os seguintes versos:
“O morro tem sede
O morro tem fome
O morro sou eu, o favelado (...)”
Zé Keti faleceu em 14 de novembro, aos 78 anos, de falência múltipla dos órgãos. E com sua morte, o samba perdeu um dos seus artistas mais completos. E o morro perdeu o seu maior porta-voz.
Zé Keti interpretando Mascarada (Letra: Zé Keti/Elton Medeiros)
Zé Keti interpretando A voz do morro, um dos seus maiores sucessos
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