É verdade que soa como clichê a recorrente observação de que "antigamente que era bom". Pelo menos em termos de produção cultural a referida observação adequa-se perfeitamente ao passado brasileiro. Já não temos tantos escritores de qualidade comparável com os de outrora (Drummond, Rosa, Vinicius, Clarice, João Cabral, Cecília, Bandeira...). Muito menos vivenciamos o surgimento de novos ritmos musicais, como o foram a bossa nova, a tropicália, a jovem guarda, o movimento rock dos anos 80, encabeçado por gênios como Cazuza e Renato Russo. Novos talentos surgem aqui e ali, mas nada que nos proporcione a sensação de "impacto".
Na televisão também não é diferente. Os humorísticos são cada vez mais entediantes, sempre repetindo os mesmos quadros da semana passada. Nada do que é feito hoje se compara à genialidade de artistas como o saudoso Antõnio Carlos Gomes, o eterno Mussum da Mangueira.
E de pensar que no futuro corremos o risco de sentirmos saudades dos dias de hoje...
Ausente entre nós desde 13 de novembro de 2014, é inegável a falta que o poeta matogrossense Manoel de Barros nos faz. Em tempos de aspereza cada vez mais exacerbada, a ausência da sua candura e o seu olhar onírico sobre a vida faz desse mundo um lugar mais pálido, menos interessante. A seguir, alguns poemas de Manoel de Barros, para que possamos recobrar a inocência outrora perdida. O apanhador de desperdícios Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de des...
Se havia algo capaz de me deixar extremamente feliz nos meus anos de infância e adolescência, certamente era quando os reclames do plim-plim anunciavam algum filme da dupla Bud Spencer e Terence Hill na Sessão da Tarde. Era diversão garantida, principalmente pelas atuações formidáveis de Spencer, com seu jeito mal humorado e seus socos potentes, que não raro levavam a nocaute vários adversários de uma só vez. Somente há pouco tempo (Deus salve a Wikipédia) descobri que os dois atores são italianos. Bud Spencer na verdade se chama Carlo Vicente Pedersoli, (Nápoles, 31 de outubro de 1929), e para minha grata surpresa foi um grande nadador, tendo participados das Olimpíadas de 1952, 1956 e 1960. Já Terence Hill, o galã da dupla, atende pelo nome de Mario José Girotti, e nasceu em Veneza no dia 29 de março de 1939. Não sei relacionar o nome dos filmes, porque o que importava para mim era a pancadaria rolando solta. Vale a pena rir um pouco com esses caras. Dois tiras fora de ordem - cen...
Verdes bandejas de ágata, meus olhos amarelos caminham para mim pela milésima vez enquanto estou cercado por brancos azulejos e amparado por uma toalha de quadros. No útero deste bar vou me elevando e saio da noite cheia de ruídos para a manhã do mar onde tudo é sal, impossível alquimia disfarçada num domingo Amável, esta manhã me aturde, manhã de equívocos onde um sábado moribundo se entrega sem rancor. Meu sábado, belíssima ave negra de olho aceso, cai nas muralhas do sol como um herói melancólico enquanto o mar abre o sorriso de dentes brancos lavados na areia alvura. Caminho para o sol que me atrai mecanicamente: ...
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