Sentado na varanda, com o crepitar das folhas ao vento preenchendo o silêncio, lembrei-me da brevidade de tudo aquilo que chamamos “agora”. O tempo, esse velho e misterioso companheiro, nunca se detém para nos saudar. Ele passa, sempre, como um visitante invisível que deixa suas marcas sem jamais ser visto.
Pensei no instante em que a ponta do pé toca o solo durante uma caminhada. Antes mesmo de percebermos, aquele contato já é passado. O momento é uma ponte entre o que foi e o que será, uma linha tão fina que parece escapar entre os dedos. A todo instante, o presente é um eco do que acaba de acontecer e uma promessa do que está por vir.
Há algo melancólico nisso, mas também algo extraordinário. O presente nunca é estático. Ele carrega o peso das nossas memórias e o sussurrar dos nossos sonhos. Cada suspiro, cada batida do coração, é um lembrete de que estamos em movimento, numa dádiva de transição constante.
Pensei nos dias em que ansiamos pelo futuro, como se ele trouxesse respostas às nossas inquietações. Também nos dias em que mergulhamos no passado, tentando agarrar o que já se foi. E nessa busca – para trás ou para frente – esquecemos que a vida se desenrola nesse intervalo fugaz, um instante que mal conseguimos nomear.
É uma tarefa quase hercúlea viver plenamente o agora, pois ele está sempre escapando. Mas talvez a magia esteja justamente nisso: na impossibilidade de segurá-lo, na impermanência que nos obriga a valorizar cada fragmento. O instante presente é um convite a sentir o vento no rosto, ouvir o canto de um pássaro, olhar nos olhos de quem amamos – mesmo sabendo que tudo isso está em constante transformação.
Voltei a observar as folhas que dançavam no vento, como se soubessem algo que nós ainda tentamos compreender. Talvez o segredo seja aceitarmos que o presente não nos pertence. Ele é passageiro, sim, mas também é o que nos dá a chance de existir.
E assim, num lampejo, o momento se foi. E outro chegou. Cada um deles, uma vida inteira.
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Gurupi-TO, 1º jan 2025
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