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Mostrando postagens de janeiro, 2025

FIJI

  Fiji não era apenas um arquipélago distante. Era uma promessa, uma imagem esculpida em tons de azul e branco que se formava na mente como um oásis inalcançável. Falava-se de suas praias onde o tempo parecia suspenso, de ilhas dispersas como jóias no oceano, de um mar que refletia o céu como se o carregasse no colo. Era o retrato ideal para algo que nunca aconteceu. Penso em nós, ou no que poderíamos ter sido, como quem observa a linha do horizonte, sabendo que ela jamais se aproxima. Havia promessas nos dias que passamos juntos, mas eram como castelos de areia — firmes por um instante, mas destinadas às marés. Falamos tantas vezes de viagens que nunca fizemos. Imagino você com os pés afundados na areia quente, o sol brincando nos seus cabelos enquanto eu buscava palavras para prender aquele instante. Mas as palavras nunca vieram, e nem a viagem. Uma vez, desenhamos um barco num guardanapo de papel. Você riu, dizendo que ele jamais flutuaria. Ainda assim, dobramos o papel com cuid...

GIBRALTAR II

  Gibraltar era mais um ponto no mapa, um nome que flutuava na geografia da minha infância, sem peso ou cor. Um dia, virou metáfora. “Inatingível como Gibraltar”, você dizia, com aquele meio sorriso que me desarmava. Não sei se falava de você mesma, de mim ou do que nós não conseguíamos ser juntos. Mas gostei da ideia de um rochedo: imóvel, altivo, cravado no horizonte. Era final de outubro, prenúncio das primeiras chuvas de verão, o vento agitava a copa das árvores naquela tarde. O café que você preparou esfriava na mesa enquanto falávamos sobre coisas que não importavam. Você mencionou Gibraltar pela primeira vez ali, sem cerimônia, como quem joga um seixo na água. O som reverberou por dentro de mim, e só muito depois percebi o eco. Amores inatingíveis têm essa estranha qualidade: nos aquecem e nos congelam ao mesmo tempo. Eu me aquecia no brilho da sua presença, mas também sabia que o caminho até você era longo, pedregoso, talvez interditado. Gibraltar, afinal, não se deixa esca...

O Instante que Escapa

  Sentado na varanda, com o crepitar das folhas ao vento preenchendo o silêncio, lembrei-me da brevidade de tudo aquilo que chamamos “agora”. O tempo, esse velho e misterioso companheiro, nunca se detém para nos saudar. Ele passa, sempre, como um visitante invisível que deixa suas marcas sem jamais ser visto. Pensei no instante em que a ponta do pé toca o solo durante uma caminhada. Antes mesmo de percebermos, aquele contato já é passado. O momento é uma ponte entre o que foi e o que será, uma linha tão fina que parece escapar entre os dedos. A todo instante, o presente é um eco do que acaba de acontecer e uma promessa do que está por vir. Há algo melancólico nisso, mas também algo extraordinário. O presente nunca é estático. Ele carrega o peso das nossas memórias e o sussurrar dos nossos sonhos. Cada suspiro, cada batida do coração, é um lembrete de que estamos em movimento, numa dádiva de transição constante. Pensei nos dias em que ansiamos pelo futuro, como se ele trouxesse resp...