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Mostrando postagens de dezembro, 2011

Natal

O sino da minha aldeia, Dolente na tarde calma, Cada tua badalada Soa dentro de minha alma. E é tão lento o teu soar, Tão como triste da vida, Que já a primeira pancada Tem o som de repetida. Por mais que me tanjas perto Quando passo, sempre errante, És para mim como um sonho. Soas-me na alma distante. A cada pancada tua, Vibrante no céu aberto, Sinto mais longe o passado, Sinto a saudade mais perto. Fernando Pessoa

ESPERANÇA

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano Vive uma louca chamada Esperança E ela pensa que quando todas as sirenas Todas as buzinas Todos os reco-recos tocarem Atira-se E — ó delicioso vôo! Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada, Outra vez criança... E em torno dela indagará o povo: — Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá (É preciso dizer-lhes tudo de novo!) Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam: — O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA... Mario Quintana

A ceia dos invisíveis

      É Natal! Por ocasião da data, a cidade encontra-se repleta de enfeites luminosos. Tão logo a tarde traz o arrebol, luzes intermitentes, numa profusão de cores dançantes, despontam nas ruas e avenidas, encantando os olhos de muitos e provocando vertigens em outros. De um modo estranho, a atmosfera parece mais leve e as pessoas tentam esboçar nas faces sombras de clandestina felicidade. Pelas ruas do centro da cidade, sob o sol escaldante, homens desempregados ganham uns trocados metidos em disfarces de Papai Noel do terceiro mundo: barbas de poliéster encardidas, coturnos e roupas vermelhas de cetim barato. Corajosamente, a trupe de bons velhinhos aventura-se pelas calçadas apinhadas de pessoas que saem em busca de algum presente ou quinquilharia expostos nas prateleiras do comércio popular. Em meio aos transeuntes e suas sacolas, figuras camufladas, diluídas na indiferença urbana, avançam pelas trincheiras da realidade. Um gari e sua vassoura, em vão, tentando co...

O que é inspiração?

Revendo algumas coisas esquecidas pela memória, encontrei esse texto que publiquei em 12/04/2004. Lá se vão mais de 7 anos, mas nem parece tanto tempo assim. Incrível como o tempo nos foje ao controle... Mas sem maiores delongas, reproduzo este pequeno ensaio, que um dia intitulei O que é inspiração? - mensagem ao novo escritor. Ei-lo: * * * Inspiração... palavra tão misteriosa quanto mágica. Sempre fico vexado quando me perguntam coisas do tipo "como é que você imaginou escrever isso?". Certamente, se eu tivesse a resposta , seria o homem mais rico do planeta.  Difícil dizer, mas fácil sentir. Sempre que penso no ato conceptivo da escrita, lembro das palavras de Cora Coralina em entrevista cedida à TV Cultura. Lembro de Cora, do alto dos seus 94 anos, dizendo que "a poesia está no lixo". Com essas simples palavras, até certo ponto contraditórias (poesia/lixo), Cora resumiu a ânsia que eu sentia em não saber dizer onde começa o umbigo do escrever.  A poesia es...

Saudade nativitana

Natividade... Ao pé da serra Das duras cangas Emergiram teus homens Desde a imemorial Escravidão Cada dia mais distante Tuas lembranças correm Ao largo Pelas insondáveis planícies Da minha solidão (Glauber Ramos - Goiânia/GO - 02/12/2011)