O poeta mineiro Murilo Mendes   Mapa  Me colaram no tempo, me puseram  uma alma viva e um corpo desconjuntado. Estou  limitado ao norte pelos sentidos, ao sul pelo medo,  a leste pelo Apóstolo São Paulo, a oeste pela minha educação.  Me vejo numa nebulosa, rodando, sou um fluído,  depois, chego à consciência da terra, ando como os outros,  me pregam numa cruz, numa única vida.  Colégio. Indignado, me chamam pelo número, detesto a hierarquia.  Me puseram o rótulo de homem, vou rindo, vou andando, aos solavancos.  Danço. Rio e choro, estou aqui, estou ali, desarticulado,  gosto de todos, não gosto de ninguém, batalho com os espíritos do ar,  alguém da terra me faz sinais, não sei bem o que é o bem  nem o mal.  Minha cabeça voou acima da baía, estou suspenso, angustiado, no éter,  tonto de vidas, de cheiros, de movimentos, de pensamentos,  não acredito em nenhuma técnica.  Estou com os meus antepassados, me balanço em arenas espanholas,  é por isso que saio às vezes pra rua combatendo per...