Com mais de cinquenta anos de carreira, Nauro tem em seu currículo cerca de 30 livros de pura poesia.
Sobre Nauro:
É difícil qualificar esses poemas escritos, por assim dizer, no avesso da linguagem. Não é pela compreensão lógica que eles nos atingem, mas pelo sortilégio de um falar desconcertante e único.
(Ferreira Gullar)
Não hesito em colocar Nauro Machado entre os grandes poetas do Brasil de hoje, independente de geração ou idade.
(Antônio Olinto)
Poeta único na poesia brasileira [...] Nauro conseguiu sintetizar numa linguagem tão rarefeita, quase irrespirável, entre o céu e o inferno, o caótico destino humano.
(Cláudio Murilo Leal)
Nauro caminha na contramão de um leitor acostumado com as veleidades do fácil.
(José Aparecido da Silva)
Alta e impressionante poesia.
(Carlos Drummond de Andrade)
Poucos poetas – talvez um Baudelaire, um Antero de Quental, um Augusto dos Anjos – têm, como esse solitário maranhense, enfrentado a tarefa árdua e encantatória de expressar, mas o fazendo sob o regime de uma consciência criadora face às possibilidades do verbo – verbo que é fala, pensamento, imagem e melodia – os ângulos escusos, os obscuros abismos, as cartilagens doloridas e inescrutáveis da estrutura humana.(Hildeberto Barbosa Filho)
Apanha o homem na queda a estágios profundos de impotência e incerteza.
(Donald Schüller)
Uma carreira poética ímpar no contexto literário brasileiro de hoje.
(Alfredo Bosi)
Consciente da qualidade e peculiaridade literária dos seus versos dentro do panorama atual da poesia brasileira, Nauro sabe que escreve não para o leitor presente, embora, como ele mesmo disse, se dá por satisfeito em saber que existem dez ou vinte leitores que admiram sua obra poética. De fato, a poesia de Nauro, ainda ignorada em tempos hodiernos, é um presente para futuros arqueólogos.
Ocupo o espaço que não é meu, mas do universo.
Espaço do tamanho do meu corpo aqui,
enchendo inúteis quilos de um metro e setenta
e dois centímetros, o humano de quebra.
Vozes me dizem: eh, tu aí! E me mandam bater
serviços de excrementos em papéis caídos
numa máquina Remington, ou outra qualquer.
E me mandam pro inferno, se inferno houvesse
pior que este inumano existir burocrático.
E depois há o escárnio da minha província.
E a minha vida para cima e para baixo,
para baixo sem cima, ponte umbilical
partida, raiz viva de morta inocência.
Estranhos uns aos outros, que faço eu aqui?
E depois ninguém sabe mesmo do espaço
que ocupo, desnecessário espaço de pernas
e de braços preenchendo o vazio que eu sou.
E o mundo, triste bronze de um sino rachado,
o mundo restará o mesmo sem minha quota
de angústia e sem minha parcela de nada.
Meu corpo está completo, o homem - não o poeta.
Mas eu quero e é necessário
que me sofra e me solidifique em poeta,
que destrua desde já o supérfluo e o ilusório
e me alucine na essência de mim e das coisas,
para depois, feliz e sofrido, mas verdadeiro,
trazer-me à tona do poema
com um grito de alarma e de alarde:
ser poeta é duro e dura
e consome toda
uma existência.
Abre-me as portas, mãe, enquanto as estrelas