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Quintal das lembranças - parte III


Sir John "The Ox" Entwistle
O revolucionário do baixo

Dando sequência aos modestos "ensaios biográficos" já postados aqui, resolvi mudar de vertente, que até então baseava-se no binômio samba/bossa nova, para trazer um pouco dos outros universos que entremeiam as lucubrações deste blogueiro. Por outro lado, gostaria de advertir que não possuo qualquer formação musical ou literária. Antes sim sou movido pela curiosidade em apreender e aprender sobre aquilo que julgo possuidor de qualidade, sem qualquer reserva de estilo ou preconceito.

Sempre considerei que o baixo nunca teve a mesma badalação que a guitarra e a bateria numa banda de rock, justamente por ser um instrumento de apoio. Nomes como Hendrix, Eric Clapton e Jimmy Page fazem parte do imaginário dos apreciadores do bom e velho rock'n roll. Todavia, se perguntados a responder o nome de meia dúzia de baixistas, dificilmente completarão a lista.

E foi no terreno das 4 cordas que John Alec Entwistle (Londres, 09/11/1944; Las Vegas, 27/06/2002) escreveu para sempre o seu nome na história da música mundial.

John Entwistle, ao lado do excelente guitarrista Pete Townshend, do ensandecido vocalista Roger Daltrey, e do lendário e "lunático" baterista Keith Moon (em breve falarei dele), falecido em 1978, formaram aquela que para mim, juntamente com o Led Zeppelin, são as duas maiores bandas de rock que já existiram - o The Who.

O fato é que grupo começou com Daltrey e Townshend dividindo os acordes de guitarra, até que Roger desistiu do instrumento. A mudança para uma única guitarra foi essencial para Entwistle (apelidado de "The Ox"), que passou a tocar acordes extremamente altos e intrincados para compensar a falta de uma guitarra rítmica - o resultado foi, dos primeiros singles do Who até o seu último sucesso, a transformação do trabalho do baixo de Entwistle em um dos mais complexos e audíveis do rock.

Entwistle desenvolveu o que ele chamava de estilo '"datilógrafo" de tocar baixo. Consistia em posicionar a mão direita sobre as cordas para que os quatro dedos pudessem ser usados para bater percussivamente nas mesmas, fazendo com que elas atingissem o braço com um distinto som agudo. Isso dava ao músico a habilidade de tocar três ou quatro cordas de uma só vez, ou de usar diversos dedos em uma só corda, além de permitir a criação de passagens bastante percussivas e melódicas. Ele usava esta técnica para imitar os preenchimentos usados pelos bateristas, às vezes antes mesmo que os bateristas tivessem a oportunidade de fazê-los.

John identificava suas influências como uma combinação de seu treinamento formal ao trompete, trompa e piano, o que dava a seus dedos uma força e flexibilidade ímpares. Juntamente com os guitarristas de rock Duane Eddy e Gene Vincent, e baixistas de soul e R&B como James Jamerson, ele é considerado um pioneiro nas técnicas de baixo. Entwistle foi a influência primordial de gerações de baixistas e continua a aparecer em enquentes sobre os "melhores baixistas" em revistas musicais. Em 2000, a revista Guitar nomeou John Entwistle o "Baixista do Milênio" numa enquente entre seus leitores.

John Entwistle era um sujeito introspectivo, que raramente falava durante os shows, a não ser quando cantava algumas canções de sua autoria, juntamente com Roger Daltrey e Pete Townshend. As apresentações do The Who tornaram-se históricas, quando ao final dos shows os instrumentos, mormente a bateria de Keith Moon e a guitarra de Pete Townshend, eram destruídos. Todavia, nesses momentos John mantinha uma postura sóbria, de modo a manter intacto o instrumento que o consagrou.

O baixista faleceu em Las Vegas, em 27 de junho de 2002. O laudo médico apontou a presença de cocaína em seu organismo, embora em pequena quantidade. Todavia, John possuía um grave problema nas artérias coronárias, de modo que o uso da droga alavancou um ataque cardíaco.


solo de baixo de John Entwistle na música 5:15

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