A moça dança comigo
nessa noite de dezembro.
Na sala onde giramos
se alguém mais há não me lembro.
O ondear da moça ondeia
uma melodia ainda
mais doce que a da vitrola
— e uma alegria vinda
dessa doçura me envolve.
Cabe bem no meu abraço
esse perfume com que
vou girando e em que me abraso
em meus quinze anos (a moça
terá, talvez, dezessete
ou dezoito). Como a valsa,
a vida o melhor promete.
E já oferta: esse corpo
a cada instante mais perto.
Ao qual responde meu corpo,
como nunca antes desperto.
E a moça vai-me queimando
em seu hálito, afogando-me
nos cabelos, e nos olhos
luminosos siderando-me!
E eis que, dançando, saímos
além da sala e do tempo.
E dançando prosseguimos
sempre que sopra dezembro,
nos mesmos giros suaves,
nos mesmos ledos enganos:
eu, o antigo rapaz,
e a moça, morta há treze anos.
Ruy Espinheira Filho
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