quarta-feira, 11 de abril de 2012
CEMITÉRIO DOS NAVIOS
Aqui os navios se escondem para morrer.
Nos porões vazios, só ficaram os ratos
à espera da impossível ressurreição.
E do esplendor do mundo sequer restou
o zarcão nos beiços do tempo.
O vento raspa as letras
dos nomes que os meninos soletravam.
A noite canina lambe
as cordoalhas esfarinhadas
sob o vôo das gaivotas estridentes
que, no cio, se ajuntam no fundo da baía.
Clareando madeiras podres e águas estagnadas,
o dia, com o seu olho cego, devora o gancho
que marca no casco as cicatrizes
do portaló que era um degrau do universo.
E a tarde prenhe de estrelas
inclina-se sobre a cabine onde, antigamente,
um casal aturdido pelo amor mais carnal
erguia no silêncio negras paliçadas.
Ó navios perdidos, velhos surdos
que, dormitando, escutam os seus próprios apitos
varando a neblina, no porto onde os barcos
eram como um rebanho atravessando a treva!
Lêdo Ivo
quarta-feira, 4 de abril de 2012
História do Samba
Pra quem gosta de samba de verdade, e deseja conhecer a fundo as raízes desse gênero musical, bem como a história dos artistas que o tornaram popular, aí vai o endereço certo:
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Semelhanças no dessemelhante
Se existe um tema que me deixa em constante desassossego é a nossa incapacidade de compreensão do próximo. Como é o sentir e o pensar do nosso semelhante? Por mais que a convivência se prolongue no tempo, poderíamos ousar dizer que "conhecemos" o outrem? Como bem advertiu o mestre João Guimarães Rosa, "Quem sabe do orgulho, quem sabe da loucura alheia?"
Para resolver a questão, acredito que somente um homem de muitos "eus" poderia fazê-lo, como o foi Fernando Pessoa, que um dia assim escreveu:
Como é por dentro outra pessoa
Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Como que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.
1934
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