Ausente entre nós desde 13 de novembro de 2014, é inegável a falta que o poeta matogrossense Manoel de Barros nos faz. Em tempos de aspereza cada vez mais exacerbada, a ausência da sua candura e o seu olhar onírico sobre a vida faz desse mundo um lugar mais pálido, menos interessante.      A seguir, alguns poemas de Manoel de Barros, para que possamos recobrar a inocência outrora perdida.       O apanhador de desperdícios     Uso a palavra para compor meus silêncios.   Não gosto das palavras   fatigadas de informar.   Dou mais respeito   às que vivem de barriga no chão   tipo água pedra sapo.   Entendo bem o sotaque das águas   Dou respeito às coisas desimportantes   e aos seres desimportantes.   Prezo insetos mais que aviões.   Prezo a velocidade   das tartarugas mais que a dos mísseis.   Tenho em mim um atraso de nascença.   Eu fui aparelhado   para gostar de passarinhos.   Tenho abundância de ser feliz por isso.   Meu quintal é maior do que o mundo.   Sou um apanhador de des...