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INVICTUS

Quando foi condenado à prisão perpétua em 12 de junho de 1964, Nelson Mandela esperava pelo pior: a pena de morte. A acusação que sofrera dizia respeito às suas atividades como líder do proibido Congresso Nacional Africano (CNA), grupo mentor do movimento de resistência ao apartheid. Enviado para a prisão da ilha Robben, situada a 11 quilômetros da Cidade do Cabo, Mandela, assim como os outros presos, foi obrigado a executar a árdua tarefa de quebrar rochas nas pedreiras de cal da ilha.

Em fevereiro de 1990, Nelson Mandela foi finalmente libertado. No período em que cumpriu sua pena, ele disse ter-se inspirado num poema vitoriano escrito em 1875, de autoria do poeta inglês William Ernest Henley, intitulado "Invictus", que agora reproduzo:
Invictus
o poeta Willian Ernest Henley

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

(trad. André C S Masini)

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